A Babá do Magnata
A Babá do Magnata
Por: Burn knight
É agora ou nunca.

Isadora

Eu fico parada diante da porta como uma idiota, olhando para o papel amarelo colado bem no centro, como se ele fosse explodir de repente. O aviso de despejo balança com o vento da janela do corredor, fazendo aquele barulhinho irritante… tac, tac, tac… quase como se estivesse zombando de mim.

Dois meses de atraso.

Dois.

Meu estômago afunda como se alguém tivesse enfiado a mão e puxado para baixo. Tento rir, aquele riso besta que sai quando a gente tá no limite, mas o som morre antes de escapar.

Eu sabia que isso ia acontecer.

Eu só não queria ver acontecendo.

Empurro a porta e entro no apartamento, esse cubículo que aprendi a chamar de casa. Quinze passos e já cheguei na janela. Dez e chego na cama. Tudo ao mesmo tempo apertado e vazio, como se lembrasse a cada segundo que eu não tenho mais para onde correr.

Me sento no colchão afundado e passo as mãos no rosto. Não tenho ninguém para pedir ajuda. Amigos? Só a Dani, e ela já segurou muita barra minha. Não posso colocar mais uma.

Respiro fundo, tentando não chorar. Minha garganta queima.

Eu não posso perder nada agora.

Minha  mãe sumiu de novo, claro. Some sempre que as dívidas dela estouram, como se o mundo tivesse um botão de desligar só pra ela.

O que ela deixa no lugar?

Mensagens de cobrança no meu celular, números desconhecidos ligando sem parar, e uns caras batendo na porta ontem à noite perguntando por “Miriam”.

Engoli seco e disse que ela não morava aqui.

Mentira óbvia. 

Tentei todos os bicos possíveis nas últimas semanas. Recepção de consultório, faxina esporádica, ajudar na padaria da dona Célia duas ruas abaixo. 

Sinto que estou sempre fugindo de algo. 

Às vezes lembro da minha infância, mas não como lembrança nítida… é mais como uma sensação incômoda no peito.

Eu cuidando da minha mãe.

Ela chorando.

Eu arrumando os restos.

Ela prometendo que ia melhorar.

Eu acreditando.

Sempre eu acreditando.

Eu aperto os olhos com força, respirando como se estivesse tentando puxar de volta o ar que sempre escapa.

O celular vibra no meu colo, assustando como se tivesse caído uma bomba dentro do quarto.

Quando vejo o nome da Dani na tela, sinto um fiapo de alívio. Ela sempre aparece nos piores momentos, tipo um anjo falastrão.

A mensagem chega em caps lock, claro, porque ela nunca sabe falar baixo nem por texto:

ISA, PELO AMOR, OLHA ISSO. VAGA DE BABÁ. MANSÃO LANCASTER. COMEÇO URGENTE. SALÁRIO QUE PAGA SUA VIDA INTEIRA.

Abro o link com a mão tremendo. O anúncio é quase assustador de tão formal, cheio de regras, exigências e aquele tom de “não encoste em nada que não é seu”. Mas eu não estou em posição de reclamar de rigidez.

Pego meu currículo meio remendado, atualizo duas coisinhas por cima e escrevo um e-mail rápido, tentando parecer profissional enquanto minhas mãos suam.

Envio.

Mal consigo respirar nos minutos seguintes. Fico ali, encarando o teto manchado do meu apartamento, ouvindo o tic-tic do aviso de despejo batendo na porta como uma contagem regressiva para o meu fracasso.

Cinco minutos depois, meu celular vibra de novo.

Quase deixo cair no chão.

Mensagem nova no e-mail:

Recebemos sua candidatura. Entrevista hoje, às 15h. Comparecer à Mansão Lancaster. Urgente.

Meu coração dispara tão forte que parece errado, como se estivesse batendo no lugar errado dentro do peito.

Hoje.

Às 15h.

Eu olho para o relógio.

Meus lábios se apertam num quase sorriso nervoso.

É agora ou nunca.

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