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Capítulo Três — Choque de Destinos

A manhã estava abafada, típica do verão no Sul. Eu tinha decidido treinar mais cedo para aliviar a mente antes de mergulhar nos relatórios da força-tarefa. A academia era meu refúgio, o único lugar onde eu conseguia silenciar os ruídos internos. Coloquei meus fones, aumentei o volume da playlist e comecei a sequência de exercícios. Cada repetição era uma forma de expulsar os fantasmas que insistiam em me perseguir — especialmente aquele que tinha voltado a assombrar meus dias: Heitor Almeida Castro.

Estava no terceiro aparelho quando ouvi um estrondo metálico atrás de mim. Antes que pudesse reagir, senti uma dor aguda no ombro. Um dos equipamentos havia caído, atingindo-me com força. O impacto me fez perder o equilíbrio e cair no chão. O som dos pesos ecoou pela sala, seguido por vozes alarmadas.

— Cuidado! — alguém gritou.

Tentei me levantar, mas a dor me fez gemer. Foi então que vi uma sombra se aproximar. Mãos firmes me tocaram, sustentando meu corpo com cuidado. Levantei os olhos — e o mundo parou.

Ele.

Heitor.

Por um instante, tudo ao meu redor desapareceu. O barulho da academia, as vozes, a dor. Só havia aquele rosto, tão familiar e tão distante. Os mesmos olhos verdes, agora mais intensos, marcados pelo tempo. O mesmo porte imponente, mas com algo diferente: um peso invisível nos ombros, como se carregasse batalhas que ninguém vê.

— Você está bem? — perguntou, a voz grave, carregada de preocupação.

O destino estava jogando a meu favor ou me testando? Antes mesmo de eu colocar meu plano de infiltração em prática, o alvo literalmente caiu sobre mim.

Meu coração disparou. Respirei fundo, tentando controlar a avalanche de emoções. Ele não me reconheceu. Claro que não. Depois da cirurgia, meu rosto tinha mudado. Mas eu o reconheci no mesmo instante — e isso foi suficiente para me desestabilizar.

— Acho que... — minha voz falhou. Engoli seco. — Acho que machuquei o ombro.

Ele me ajudou a sentar, os movimentos firmes, cuidadosos. Chamou um funcionário da academia, pediu gelo, falou com autoridade. Enquanto isso, eu lutava para manter a calma. Cada segundo perto dele era uma mistura de dor física e emocional. Lembranças do sertão, das noites sob as estrelas, do abandono. E agora, ali, tão perto, sem saber quem eu era.

Assenti, mesmo sabendo que não tinha escolha. Ele passou o braço pelas minhas costas, apoiando meu corpo contra o dele. O toque reacendeu algo que eu pensei ter enterrado. Meu coração gritava, mas minha mente lembrava: ele é meu alvo. Ele é o chefe da máfia que destruiu minha vida. Ainda assim, bastou a proximidade para meu corpo reagir como antes — a pele arrepiou, o calor subiu pelo pescoço, e cada músculo parecia lembrar o que era estar perto dele. O perfume discreto, a firmeza das mãos, a respiração próxima... tudo me atingiu como uma onda, trazendo de volta a química que sempre existiu entre nós, aquela força invisível que me puxava para ele, mesmo quando eu queria fugir.

No carro dele, o silêncio era quase palpável. Eu olhava pela janela, tentando evitar seus olhos, mas sentia o peso do olhar dele sobre mim. Curioso, intenso. Como se ele tentasse decifrar cada traço do meu rosto. Eu precisava manter o jogo perfeito: Myrthes Valença precisava ficar enterrada. Como parte da equipe especializada, eu operava sob o protocolo de identidades protegidas. Ali, eu era Valentina Cruz. Se ele descobrisse quem eu realmente era, o desastre seria total — para a investigação e, principalmente, para o meu coração.

— Sinto muito pelo acidente — disse, quebrando o silêncio. — Não costumo treinar nesse horário.

— Nem eu — respondi, forçando um sorriso. — Foi um acaso.

Ele assentiu, mas não desviou os olhos. Havia algo naquela expressão que me deixava inquieta. Interesse. Não reconhecimento, mas interesse. E isso era perigoso.

Chegamos ao hospital. Ele cuidou de tudo: ficha, médico, exames. Ficou ao meu lado o tempo todo, como se fosse obrigação dele garantir que eu estivesse bem. Eu observava cada gesto, cada palavra. O homem que um dia me abandonou agora parecia incapaz de me deixar sozinha. Ironia cruel do destino. Enquanto isso, eu mantinha a atenção redobrada: cada assinatura, cada documento precisava sair com o nome Valentina Cruz. Um deslize, e tudo ruiria.

Enquanto esperávamos os resultados, ele recebeu uma ligação. Atendeu, a voz mudou — mais baixa, mais controlada.

— Sim, eu sei... — fez uma pausa. — Preciso de alguém confiável. Para cuidar deles. Uma babá. Mas não qualquer uma. Quero alguém discreto, educado, que fale mais de uma língua. Entendeu? — Silêncio. — Certo. Me avise quando tiver um nome.

Meu coração acelerou. Uma babá. Para quem? Ele não deu detalhes, mas mencionou “eles”. Dois filhos pequenos, provavelmente. Me lembrei do meu bebê: Eduardo — e eu nem imaginava que esse nome voltaria para me destruir mais tarde. Segurei a respiração, fingindo desinteresse, mas cada palavra daquela conversa ficou gravada na minha mente.

Encontrei a brecha para me infiltrar. E seria no centro de tudo. No covil do lobo

Quando desligou, ele percebeu meu olhar curioso e sorriu de leve.

— Assuntos de trabalho — disse, como quem encerra o assunto.

Sorri de volta, fingindo acreditar. Mas minha mente já trabalhava. Aquela informação era uma chave. E eu sabia como usá-la.

Pouco depois, o médico confirmou: nada grave, apenas uma contusão. Recebi analgésicos e uma recomendação de repouso. Heitor insistiu em me levar para casa. No caminho, conversamos. Ele se apresentou como CEO da Latina Engenharia Global, uma empresa de construção civil que atuava na América Latina. Falou sobre projetos, viagens, números. Tudo muito convincente — para quem não sabe o que há por trás. Eu sabia. Cada palavra era fachada para um império criminoso.

— E você? — perguntou, os olhos fixos em mim. — O que faz?

Sorri, calculando cada sílaba. 

— Trabalho com crianças. Educação infantil. Sou formada na área. — Fiz uma pausa estratégica. — E, por acaso, também atuo como babá especializada. Falo inglês, espanhol e francês. É um trabalho que exige confiança, discrição... essas coisas.

Vi algo mudar no olhar dele. Interesse. Não apenas pelo acaso da conversa, mas por algo mais profundo. Ele não disse nada, apenas assentiu, como quem guarda uma informação para usar depois.

Quando chegamos ao meu prédio, ele saiu do carro para me ajudar. Ficamos frente a frente por alguns segundos. O mundo pareceu encolher até caber naquele espaço entre nós. Eu sentia o cheiro dele, a força dele, e odiava sentir o que sentia. Porque meu coração ainda reagia, mesmo depois de tudo. Mesmo sabendo quem ele era agora.

— Obrigado por tudo — disse, tentando manter a voz firme.

— Não precisa agradecer — respondeu, os olhos presos aos meus. — Foi um prazer ajudar.

Sorri, mas por dentro, estava em guerra. Ele virou e entrou no carro. Eu fiquei parada, vendo-o partir, sentindo que aquele encontro não era apenas um acaso. Era o início de algo maior. Algo perigoso.

Subi para meu apartamento, fechei a porta e encostei as costas nela, respirando fundo. Minha mente fervia. Ele não me reconheceu. Mas eu ouvi. Uma babá. Dois filhos pequenos. Meu instinto gritava que essa era a oportunidade que eu esperava. Não apenas para a investigação. Para mim. Para chegar mais perto do homem que mudou meu destino.

Peguei o celular e enviei uma mensagem para Carla: 

"Preciso de tudo sobre a vida pessoal do Heitor Castro. Urgente."

Depois, sentei no sofá, ainda sentindo o toque dele na minha pele. Ódio e desejo se misturavam como veneno. Eu queria justiça. Eu queria vingança. Mas, acima de tudo, eu queria respostas. E estava disposta a entrar no inferno para consegui-las.

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