MAYA O concreto era minha vista. Um labirinto sujo de paredes de tijolo à vista, varandas com roupas penduradas formando bandeiras de renda esfarrapada, e o céu, um retângulo cinza apertado entre as beiradas dos prédios. Ficava parada na janela da nossa sala, encarando a única paisagem que meu bairro, meu mundo, podia oferecer. Mas meus olhos não viam o concreto. Viam o vazio.Porque na minha mente, projetava-se uma imagem em alta definição: a vista panorâmica do apartamento de Kaelen Aurelius. O Central Park se estendendo como um sonho verdejante e perfeito sob a luz da manhã. A sensação de espaço, de ar, de infinitas possibilidades que aquele simples quadro de vidro enquadrava. Era uma beleza que doía, porque era uma lembrança, não uma promessa.E junto com a vista, vinha outra memória, mais íntima e muito mais perturbadora: o impulso repentino e completamente insano de ter beijado sua bochecha. Meus dedos subiram até meus próprios lábios, como se pudessem ainda sentir o eco do toq
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