Arthur parou diante da porta da sua cobertura, as cartas ainda nas mãos, como se fossem um enigma antigo que exigia silêncio e coragem. Abriu devagar, entrou sem acender as luzes e deixou as chaves sobre a bancada da cozinha, o som seco contra a pedra soando mais alto do que deveria.O relógio na parede marcava 10h da manhã, mas parecia noite. O céu, carregado, ameaçava mais chuva. E dentro dele, a tempestade já estava armada.As cartas. Duas.Uma escrita por Eduardo Costa. Outra por Helena.Arthur sentou-se no sofá, devagar. Não queria ler ali. Não naquele lugar que já fora abrigo para os dois. Levantou-se, foi até o escritório — um espaço neutro, sem os traços dela. E só então respirou fundo.A do pai veio primeiro. O envelope ainda tinha o nome dela escrito à mão, com uma letra hesitante. Não havia saudação pomposa, nem rodeios. Começava direto, como um pedido de perdão mal ensaiado.“Filha,Se estás a ler isto, é porque eu finalmente tive coragem.”Arthur leu devagar. Cada linha u
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