LorenaA favela fala. Não com palavras — com cheiro, olhar, batida de porta e passo apressado. Ela sussurra no beco, grita no portão, geme na alma de quem conhece o perigo de perto.E naquele dia… ela tava respirando pesado.Dava pra sentir na pele, igual arrepio que vem sem vento. Um peso no ar, uma inquietação que não tem explicação lógica, mas que a gente aprende a respeitar.Kaíque tava lá, focado. Suando na oficina, com a mão cheia de graxa e o peito cheio de esperança. Mas eu… Eu já tinha escutado o alerta que o mundo dá antes da merda acontecer.Tudo começou com os olhares.Aquela vizinha fofoqueira que sempre passava calada, agora me olhava como se soubesse de um segredo que ia me destruir.O mototaxista, que sempre sorria, desviou o olhar.E a Néia — a mais velha da laje da frente, que já viu o morro mudar de dono umas dez vezes — me chamou com a voz baixa:— Lorena...— O que foi, Néia?Ela hesitou. Olhou pros lados, depois pra dentro dos meus olhos.— Nada, minha filha… só
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