Kaíque
Assinar aquele papel foi mais difícil que sair da boca pela primeira vez. O papel tremia na minha mão igual à minha alma. A caneta pesava como se tivesse chumbo. Era o preço da liberdade… ou do caixão.
Quando botei meu nome ali, não foi só tinta no papel. Foi um grito calado. Foi como berrar pra favela inteira: — “Eu não sou mais de vocês.”
E junto com esse grito veio o silêncio.
Aquele silêncio pesado. De quem sabe que agora carrega uma mira nas costas.
Porque quem sai da vida… vira alvo.
André colou comigo firme. Andava lado a lado, falava olhando no olho e tratava a gente como gente.
Me levou pra falar com juiz, com assistente social e com os caralho tudo. O papo era reto.
— A gente vai te colocar no programa de proteção, Kaíque. Mas pra isso, precisa provar que corre risco real. Nome, rota e estrutura. Tem que mostrar o que tu sabe.
Eu franzi a testa.
— Não sou X-9.
Ele respirou fundo, com calma, mas firme.
— Ninguém tá pedindo dedo-duro. Só precisa mostrar que não tá blefa