Lorena
O dia amanheceu com um silêncio diferente.
Era como se até o vento da vila soubesse que alguma coisa importante estava acontecendo. Kaíque saiu cedo, mochila nas costas, o boné virado pra frente — diferente de quando ele usava pra esconder o olhar duro de quem comandava. Agora era pra segurar o medo. Pra esconder o suor da testa. Pra não deixar o mundo ver que por dentro, ele tava tremendo.
Meu bandido tava indo pra guerra.
Não com fuzil, não com moto ou radinho no bolso. Mas com a cara limpa e a alma calejada.
E eu?
Eu fiquei em casa, coração na mão, estômago revirando como se eu tivesse na garupa com ele.
Preparei café, mas a comida travava na garganta. A casa parecia grande demais sem ele andando de um lado pro outro, reclamando da barba ou procurando o chinelo. Ficava olhando pro celular como se fosse bombear notícia boa. Mas nada. Só o tic tac da ansiedade.
Na noite anterior, ele deitou com a cabeça no meu colo e perguntou, com aquela voz rouca de quem já viu o inferno de