*Clara* A primeira coisa que Clara sentiu ao sair pela porta foi o vento cortante da manhã. Ainda escuro. Ainda em silêncio. Ela amarrou os tênis com a firmeza de quem amarra a própria alma. Era 4h57. Em três minutos, seu corpo estaria em movimento. E o resto do mundo ainda dormia. Todos os dias, às 5h da manhã, Clara Antonelli corria. Corria como se o asfalto fosse o único lugar onde ela podia ser só movimento — sem pressão, sem cobranças, sem ter que provar nada a ninguém. Ali, entre as luzes fracas dos postes e o silêncio das ruas ainda dormindo, Clara era só Clara. Na verdade… Clara Antonelli de Manaus, nascida e criada na natureza. Enquanto outras crianças brincavam de boneca, ela crescia entre as sombras de palafitas e as histórias da mãe, que dizia: “Filha, mulher forte não precisa gritar. Só precisa ir.” Ela foi. Estudou como uma obcecada. Ganhou uma bolsa para estudar arquitetura em Florença, o berço da proporção áurea, da simetria e da beleza atemporal. Lá, ela foi
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