CLARA
Clara se sentou diante dele com a segurança de quem não está ali pra pedir licença.
Enquanto abria os esboços, escaneava a sala como uma arquiteta em campo de batalha.
O ambiente era uma fortaleza.
Cada peça milimetricamente posicionada para intimidar. Tudo gritando perfeição e poder.
Vidros. Linhas retas. Texturas masculinas.
Era mais do que um escritório — era um templo construído para não ser invadido.
— Belíssimo uso da luz natural. Transmite elegância… e um leve medo de intimidade — soltou, com ar casual.
Leon ergueu os olhos.
— Medo de intimidade?
— Homens que constroem salas assim costumam ter vidas bem mais… bagunçadas.
Ela se levantou, deu a volta na mesa, parando perto dele.
— Aliás, essa divisória oculta uma adega, não? Madeira refrigerada. O cheiro entrega. Mas tudo bem… não julgo vícios de controle.
Leon soltou um leve riso.
Ela estava brincando com fogo — e ele estava gostando.
— Você é sempre assim, Clara?
— Assim como? Gênio indomável, beleza exótica e sarcasmo involuntário?
Leon sorriu de verdade. Um sorriso que não usava em reuniões. Um sorriso… quase íntimo.
Clara abriu o projeto, apontando para os ajustes de fachada, iluminação e aproveitamento de espaço. Tudo funcional… mas também ousado.
— Aqui, quero abrir as laterais com vidro espelhado. O sol entra, mas o ego sai pela janela.
— E aqui, uma escultura central de pedra vulcânica no hall. Contraste com o aço. Um lembrete de que até o império mais frio precisa de um pouco de calor.
Leon inclinou-se. Mais perto.
— Você não tem medo de me provocar, tem?
Ela se aproximou também.
— Sr. Vellamo… eu projetei fundações sobre florestas alagadas na Amazônia.
Você me parece bem mais estável do que jacarés e barro movediço.
Leon sorriu.
Começava a gostar desse jogo.
Começava… a querer perdê-lo.
— Você acha que consegue redesenhar algo tão sólido assim?
Clara mordeu o lábio. E respondeu sem piscar:
— Eu não desmonto. Eu redesenho.
Fez uma pausa.
— Sutilmente.
TOC TOC TOC.
A tensão que crescia entre os dois foi quebrada pelo som delicado na porta.
Ela se abriu com um leve rangido.
Quem entrou foi uma secretária loira, com sorriso tenso e olhos grudados em Leon como se ele fosse um filme que ela já tinha assistido dez vezes — e ainda assim suspirava.
— Senhor Vellamo… desculpe — disse, a voz doce demais. — Os relatórios da filial de Chicago chegaram. Disseram que é urgente…
Leon não olhou para ela.
Sua expressão endureceu como uma máscara ativada por protocolo.
— Deixe na mesa, Cassandra.
A moça hesitou um segundo. Observou Clara com uma análise discreta, mas carregada de ciúme camuflado. Depois assentiu e saiu.
Clara recolheu os papéis, sorrindo de canto.
— Bom saber que a torre treme quando a base chama.
Ela se dirigiu à porta com passos firmes, mas ele falou — com a voz mais baixa e tensa do que antes:
— Senhorita Antonelli?
Ela virou-se, segurando o olhar.
— Espero que você não esteja subestimando a altura dessa reforma.
Clara arqueou a sobrancelha.
— E espero que você esteja pronto pra ver seus limites sendo redesenhados.
E saiu.
Impecável por fora.
Desafiada por dentro.
E cada vez mais interessada na estrutura daquele homem.