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Capítulo 3 – Relatório de Campo: Garanhão à Vista

CLARA

O som das botas de Clara ecoava pelo piso de cimento queimado do estúdio.

Ela estava de volta à sua base: In.Arte Arquitetura — o espaço que não era só o coração do trabalho, mas o coração dela.

Ali, entre as janelas enormes do Brooklyn, o cheiro de café forte e a bagunça perfeitamente funcional, vivia o que ela chamava de sua verdadeira estrutura:

Sabrina, Talita e Vic.

Eles se conheceram na faculdade.

Passaram por pranchetas tortas, madrugadas a fio, concursos perdidos e maquetes que explodiam antes de serem entregues.

Sobreviveram juntos ao caos criativo e saíram de lá com um pacto silencioso:

não importa o tamanho do projeto, da cidade ou do inimigo — eles enfrentariam tudo como uma fortaleza. Juntos.

Na parede, o logo minimalista da empresa.

Na alma do ambiente, três gargalhadas e um sarcasmo afiado por metro quadrado.

Sabrina Duarte — ruiva, dramática, diretora de criação e rainha do batom vinho.

Talita Ramos — morena, cabelos crespos ondulados, olhar analítico e coração de aço.

Victor Cabral (Vic) — arquiteto de interiores, gay declarado, fofoqueiro profissional e dono da língua mais afiada da Costa Leste.

— Oi, musa amazônica — disse Sabrina, sem tirar os olhos do tablet.

— Já voltou da cúpula dos deuses?

— E aí? Como tá o senhor “arquitetonicamente delicioso”? — emendou Vic.

Clara largou a bolsa e soltou um suspiro.

— Voltei viva. Mal, mas viva.

— Ele é isso tudo mesmo? — Talita perguntou, já prevendo o drama.

— Sim.

— “Sim” tipo CEO padrão… ou tipo “eu queria ser o lápis dele por 15 minutos”? — Sabrina disparou.

Clara riu.

— Segundo tipo.

Vic quase caiu da cadeira:

— ENTÃO SENTA. RELATA. ME DÁ ESSE PRAZER.

Clara sentou, pegou a caneca, cruzou as pernas e disparou:

— O escritório dele parece um templo de poder. Frio. Escuro. Sofisticado. Parece que ninguém toca em nada ali desde o Obama.

— Como o ego dele? — Talita provocou.

— Tamanho da torre. E aquela barba? Aquela barba poderia ser usada em interrogatórios sensuais.

Sabrina bateu na mesa:

— EU SABIA. E você? Manteve o domínio?

Clara ergueu uma sobrancelha.

— Olhei bem nos olhos dele e disse que a sala parecia projetada por alguém com medo de intimidade.

Vic soltou um grito.

— Ai, meu Deus! Casa com ele. Depois me dá o projeto do quarto!

— E ele? — Talita sorriu.

— Ele… gostou.

As risadas deram lugar a um breve silêncio. Clara olhou pra janela.

— Ele tem algo. Uma presença. Como se tivesse nascido pra dominar o mundo… mas finalmente tivesse encontrado alguém que desafia o próprio império.

Sabrina se levantou.

— Só espero que você não tente redesenhar a fundação dele e acabe se jogando do topo da torre.

Clara a olhou nos olhos.

— Eu sou arquiteta, Sab. Eu não caio. Eu projeto onde piso.

Vic ergueu a taça de vinho que tinha surgido sabe-se lá de onde.

— Então brindemos, meus amores! Ao quase contrato com o deus de mármore.

Talita trouxe mais duas taças. Sabrina já abria o armário do “happy hour de emergência”.

— A esse projeto, que ainda nem começou… mas já tem história pra virar série — disse Talita.

— E à In.Arte — completou Clara. — Onde a base é forte, o topo é nosso… e os amigos são estrutura de aço.

As taças se chocaram.

E por um instante, entre o estalo do vidro, os risos e a promessa de gin com segredos, Clara sentiu:

A torre pode ser dele.

Mas a fundação… era dela.

Vic girou na cadeira com o celular na mão, os olhos brilhando mais do que o espumante:

— Inclusive, aviso de utilidade pública: marquei um date no Match agora e ele vai estar na festa do Bronx Club hoje à noite. Eu não vou sozinha. Vocês VÃO comigo.

Sabrina já soltava uma risada maliciosa:

— Festa com gente bonita, luz baixa e bebida boa? Me avisa onde assino.

— Eu topo — disse Talita. — Só se for pra usar aquele vestido que vocês disseram que era “criminal”.

Vic estalou os dedos.

— É isso! Look criminal, atitude ilegal.

E você, Clarinha…

— Vic a olhou com intenção — …vai. Nem adianta fingir. Você precisa desintoxicar esse olhar de CEO com cheiro de pimenta preta e tatuagem no braço.

Clara sorriu.

— Ok. Mas só se tiver música boa. E nenhuma promessa de casamento, Vic.

Ele piscou:

— Prometo só perdição.

Contrato emocional? Só se for verbal e com beijo.

Eles riram de novo.

E a noite começava a parecer promissora.

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