Capítulo 5 – Preparativos de Guerra

CLARA

O apartamento ficava a três quadras do estúdio.

Moderno, funcional, e com três regras básicas:

1. Ninguém atrasa o café.

2. Ninguém toca nos vinis da Talita.

3. E ninguém ousa sair mal arrumado quando Vic entra no modo “produção de gala”.

Era o lar dos quatro desde o término da faculdade.

Dividiam o espaço como dividiam a vida: por igual.

Cada um com seu quarto, suas manias, seus dramas — e uma cumplicidade que nem o caos de Nova York conseguiu quebrar.

Todos vinham de famílias humildes.

Clara, Sabrina e Vic tinham histórias de esforço e noites viradas por necessidade, não por escolha.

A exceção era Talita Ramos.

Morena, cabelos crespos e ondulados, Talita era filha de um empresário de médio porte da Zona Sul de São Paulo.

Foi o pai dela quem bancou o primeiro espaço da In.Arte Arquitetura, acreditando que as ideias da filha e dos amigos poderiam mudar fachadas — e vidas.

E hoje… todos sabiam que estavam prestes a marcar presença.

Não em uma festa.

Mas em território inimigo.

Vic girava com uma escova na mão, prendendo mechas no alto da cabeça de Sabrina.

— Abaixa a cabeça, ruiva! Essa franja não vai vencer minha laca.

E Talita, se não quiser parecer diretora de escola sexy, vai ter que tirar esse blazer.

— É Versace — respondeu Talita.

— É caretice com etiqueta cara — rebateu Vic, sem perder o ritmo.

No quarto ao lado, Clara olhava seu reflexo com Calma.

Firme.

Quase perigosa.

O vestido azul-marinho colado ao corpo era uma provocação com assinatura.

Tecido acetinado, modelagem impecável, alças finas que dançavam nos ombros com a leveza de quem sabe o que carrega.

O corte abraçava o corpo com precisão cirúrgica — justo no quadril, firme na cintura, e letal nas costas nuas, que desciam como uma queda controlada de desejo.

— Claraaaa — Vic apareceu na porta com as mãos na cintura. — Já tá pronta pra acabar com a paz do bairro?

Ela sorriu.

— Só se a maquiagem estiver à altura.

— Já vou resolver isso.

Em poucos minutos, Vic estava com o estojo aberto.

Base. Iluminador. Máscara de cílios.

— Você não precisa disso tudo — disse ele, enquanto aplicava. — Mas se vamos derrubar bilionários hoje… é melhor que eles vejam você brilhar antes de cair.

Clara deu um sorriso de canto. Um sorriso contido. Perigoso.

Talita apareceu com taças na mão.

— Um brinde rápido antes da guerra?

Todos se reuniram no centro da sala.

— Ao look — disse Sabrina.

— Ao salto — disse Vic.

— À In.Arte — disse Talita.

Clara ergueu a taça.

— E à torre… que talvez trema essa noite.

As taças se chocaram.

O perfume, o desejo e a tensão já pairavam no ar.

E enquanto desciam os degraus daquele prédio…

nenhum deles sabia que o homem que Clara queria esquecer… estaria lá.

Uber parou na calçada em frente ao Bronx Club.

A música já vibrava pelas paredes escuras do prédio.

Luzes em tons de violeta, dourado e vermelho pulsavam no ar como batimentos cardíacos fora do peito.

Clara, Sabrina, Talita e Vic desceram do carro como uma formação de ataque silenciosa.

Impecáveis.

Letais.

— Entrando agora… o colapso coletivo — murmurou Vic, enquanto ajeitava o próprio paletó com brilho discreto e sapato tão afiado quanto sua língua.

Talita ajeitou os brincos. Sabrina soltou o cabelo.

E Clara passou os dedos nos fios soltos do coque com a confiança de quem sabia o impacto que causava — mesmo sem planejar.

Eles não sabiam de nada.

A noite era só diversão.

Alívio.

Gin com gosto de vingança leve.

E um bocado de risada entre amigos que tinham sobrevivido a mais um inferno criativo.

Clara não pensava em Leon.

Pelo menos não naquele segundo.

— Vamos beber — disse Sabrina.

— Vamos dançar — completou Talita.

— Vamos deixar alguém arrependido de existir — decretou Vic, puxando todos pela mão.

Enquanto isso, do outro lado do salão…

Leon Vellamo acabava de chegar.

Terno escuro. Camisa semiaberta. Sem gravata.

O olhar afiado de sempre, mas com um quê de caçador solto — sem saber que a presa não era quem ele pensava.

O clube era grande. Mas não grande o suficiente.

E os olhos dele iam encontrá-la.

Não por acidente.

Mas por gravidade.

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