O telefone tocava há mais de um minuto. Mas Lucas não atendia.

Do outro lado da linha, seu empresário, seu produtor, seu advogado — todos querendo saber por que ele cancelara uma gravação, por que havia sumido após a última apresentação, por que não respondia há três dias. Mas naquele momento, Lucas já não era Lucky Valley. Não era o astro em ascensão, o fenômeno digital, o artista de letras profundas.

Ele era apenas o reflexo distorcido de si mesmo.

Deitado no chão do estúdio, cercado por fotos rasgadas e fragmentos do passado que se recusavam a morrer, Lucas encarava o teto como se esperasse que algo caísse do céu para lhe dar resposta. Nada vinha. Só silêncio. Só a ausência. E o vazio.

A conversa com Helena repetia-se em sua cabeça como um disco quebrado. O som da voz dela dizendo “isso é perigoso” havia se cravado como lâmina sob a pele. A maneira como ela o olhou — com medo, sim, mas também com compaixão — era mais do que ele merecia. Mais do