O hospital penitenciário ficava longe do centro. Tão longe quanto era possível dentro dos limites da cidade — como se a dor e a loucura merecessem exílio. Lá, o silêncio era mais profundo. Lá, a morte costumava esperar deitada, respirando devagar ao lado das camas brancas.
Helena estava ali há mais de uma hora, sentada em uma poltrona desconfortável no corredor estreito do terceiro andar. Os olhos fixos na porta fechada da UTI. Nada se movia. Nenhuma voz vinha. Só o bip insistente, frio, mecânico, do monitor cardíaco que dizia, teimosamente, que Lucas Valdez — ou Lucky Valley — ainda estava vivo.
Mas... o que significava “vivo”?
O médico havia sido claro. Hemorragia interna, trauma cerebral, perda de consciência profunda. Estado de coma induzido. Nenhuma previsão. Nenhuma certeza.
Só a imagem final. A cabeça dele batendo contra a mesa. O sangue escorrendo. Os olhos olhando para ela com... o quê? Amor? Culpa? Alívio?
Helena não sabia. E isso a corroía por dentro como ferrugem em ferro