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​O Artista e a Moça Mal Vestida

Cora e Mabel caminhavam ao encontro do ateliê do doce mestre, quando foram paradas por algumas senhoras.

​— Cora? — Perguntou a velha de cabelos grisalhos. As duas moças pararam e tentaram o melhor sorriso que tinham. — Você está gigante. Cuidei de você quando era nova.

​A velhinha sorriu. Já a outra, uma velha que ninguém que a conhecia gostava, era conhecida por ser maldosa.

​— Você é filha de um conselheiro real. Como pode ser tão mal vestida? Minha criada tem roupas melhores.

​Cora engoliu em seco. Ficou tão murcha quanto uma flor após morrer. Mabel, por outro lado, não segurava a língua há muito tempo.

​— Se ponha no seu lugar! — Ela disse, puxando a amiga. — Cora se veste como quiser.

​A velha deu de ombros.

​— E muito mal.

​Aquilo foi como uma faca no coração de Cora. Ela já se sentia muito insegura quanto às suas vestimentas. Sabia que não poderia ter roupas melhores, e todas as suas economias, que eram mínimas, ela guardava porque sabia que um dia precisaria fugir dali.

​Elas não falaram mais nada, apenas saíram como quem foge do fogo, mas com o coração em mil pedaços.

​Elas se guiaram para o ateliê, que era muito lindo, todo pintado e desenhado. Mesmo sendo sobre poesia, Tomaz, o professor, adorava arte e, como artista, adorava pessoas talentosas.

​Cora tinha tudo para ser uma escritora bem-sucedida. Tomaz conseguiria ajudá-la, mesmo que ela fosse uma mera criada. Mas com aquela mãe que tentava de todas as formas ofuscar a pobre Cora, ele se sentia impotente para ajudar.

​Ao chegar, ela viu, de relance, um garoto magro, de cabelos em tons avermelhados, que pintava um quadro muito belo. Ela chegou perto o bastante para ver o que a chocou: Ele pintava ela!

​— O qu-quê? — Ela tentou falar sem gaguejar e logo se repreendeu.

​Cora não tinha permissão para falar com garotos e seguia isso à risca. Seu pai sempre lhe disse que uma boa moça decente não tem qualquer tipo de contato com homens.

​O garoto se virou e deu um enorme sorriso. Mabel, que estava apaixonada por alguém que jamais voltaria, conseguiu achar beleza em Patrício, muito atraente. Tomaz, por sua vez, analisava de longe. Ele sabia que Patrício era seu filho, o único que esteve sempre por perto, pois a mãe dele fora a única mulher que ele amou. Imaginava que o menino tinha sentimentos complexos por Cora.

​Ele não entendia como, mas sabia que naquele coração, o amor reinava.

​— Me desculpe! — Patrício quase pulou da cadeira enquanto desenhava detalhadamente o rosto da doce moça. — Você não me deu permissão, mas você é tão... como posso dizer... — Cora, que não era de ficar fascinada por ninguém, achou incrível ser pintada por um garoto. — Você é arte! O seu rosto é angelical! Meu pai diz que tudo que é lindo, temos que tornar arte.

​Tomaz sorriu. Filho de peixe, peixinho é. Ele se sentiu orgulhoso e viu naqueles dois jovens um belíssimo casal.

​— Oh... — Ela tentou falar algo. Mas, naquele momento, até as mais belas palavras haviam fugido de sua boca.

​Ele ficou a analisando, achando mais detalhes: o cabelo encaracolado apenas nas pontas, o perfume adocicado com cheiro de cereja, a boca tão desenhada e vermelha, as bochechas gordinhas, e as covinhas. E os olhos, tão azuis.

​Tomaz, por fim, acabou com a "paisagem" do filho.

​— Cora! — Ele foi receber a tímida garota. — Vamos, vamos! Temos de começar. Hoje tenho uma lição importante. — Puxou as duas garotas e deu uma piscadela para o filho. Patrício não pôde deixar de imaginar se aquela paixão passaria de algo banal.

​Tomaz contou histórias, explicou como começar uma poesia e pediu para Cora e Mabel — ele sabia que Mabel tinha certo interesse, mas não levava jeito como Cora — escreverem uma linda poesia para alguém amável.

​E no fim da lição, apenas trocas de olhares entre Patrício e sua aluna foram percebidas.

​Poema de Cora

​Beleza e arte

São coisas parecidas

E podem ser bem usadas.

​Seu sorriso é beleza

E também pode ser arte.

​Seu cabelo, em tom avermelhado,

Poderia ser considerado arte,

Mas eu diria que é a perfeição.

​Quem criou

Foi a Natureza.

Quem mais poderia criar algo tão belo

E jogar no mundo sem mais nem menos?

​Que a Natureza, ou sei lá quem,

Crie algo tão belo

Tão lindo

Quanto a covinha de seu mais belo sorriso.

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