7 - Casado

Vinícius Albuquerque, aos 30 anos, era um homem de presença imponente e charme irresistível. Com 1,95 m e físico atlético, sua postura naturalmente exalava confiança. Os cabelos castanho-claros, curtos e lisos, moldavam o rosto de mandíbula forte, enquanto seus penetrantes olhos verde-mel pareciam sempre guardar segredos — um brilho indecifrável que atraía olhares por onde passava.

Mas agora, sentado na cama do hospital, aquela imponência parecia atenuada.

As dores nas costelas e o cansaço evidente davam a ele uma vulnerabilidade rara.

Os olhos, antes firmes, estavam distantes, perdidos na janela aberta enquanto tentava assimilar tudo o que havia acontecido.

Ao seu lado estava Júlia.

Aos 27 anos, Júlia tinha uma beleza discreta, tranquila. Longos cabelos castanhos geralmente presos de maneira despretensiosa, olhos castanho-claros que carregavam serenidade e uma leveza que contrastava profundamente com o caos interno de Vinícius. Vestia-se de forma simples, refletindo a vida humilde na pequena vila onde morava — lugar onde havia encontrado o corpo dele caído na estrada.

— Você está com uma cara melhor hoje — comentou ela, fechando o livro que lia e oferecendo um sorriso suave.

— Acho que estou me acostumando com a dor — respondeu Vinícius, retribuindo o sorriso com esforço. — Mas as costelas ainda fazem questão de me lembrar que eu não estou exatamente de férias.

Júlia soltou um riso baixo.

— Não tenha pressa. Os médicos disseram que sua recuperação vai levar algum tempo.

Antes que ele pudesse responder, o telefone vibrou sobre o criado-mudo.

Vinícius o pegou, franzindo o cenho ao ver o nome na tela.

Henrique.

Suspirou.

— É um amigo — murmurou para Júlia, antes de atender.

Assim que colocou o celular no ouvido, ouviu o tom urgente do outro lado.

— Vinícius, o que está acontecendo? — disparou Henrique. — Cara, que história é essa de casamento? Quem é Clara? Ela está aqui, dizendo que vocês se casaram! Você nunca me falou nada disso!

Vinícius congelou.

— Casado? — repetiu, confuso. — Henrique, eu não me casei. Do que você está falando?

Júlia, que ouvia apenas fragmentos, levantou o rosto com curiosidade cautelosa.

Henrique insistiu:

— Então você não se lembra? Cara, essa mulher está aqui, dizendo que vocês oficializaram tudo há pouco tempo. Ela parece… sincera. Assustada. Isso tem a ver com o acidente? Você perdeu a memória?

Vinícius passou a mão pelo rosto, frustrado.

A dor física era pequena perto da confusão que o atingia agora.

— Não, Henrique. Minha memória está normal. Eu lembro de tudo antes do acidente. Das viagens, dos negócios… mas casamento? Isso não existe.

Henrique ficou em silêncio por alguns segundos.

— Vinícius… acho melhor você voltar logo. Tem alguma coisa muito errada acontecendo aqui. E a Clara está perdida. Diz que te ama, que vocês estavam juntos… É estranho, cara. Muito estranho.

Vinícius sentiu a pulsação acelerar.

— Eu ainda preciso de alguns dias. Assim que eu melhorar, volto e converso com ela. Seja lá o que isso for.

— Não demore. — Henrique soou tenso. — A situação está fugindo do controle.

A ligação encerrou.

Vinícius ficou um tempo com o celular na mão, respirando devagar, como se tentasse organizar o caos interno.

Júlia finalmente perguntou:

— Casamento? — seus olhos se estreitaram, preocupados. — Você me disse que não tinha esposa…

Ele a encarou, balançando a cabeça.

— Eu não tenho. Pelo menos… não que eu me lembre. Henrique disse que uma mulher está na minha casa afirmando que somos casados. Nada disso faz sentido.

Júlia estudou o rosto dele com cuidado.

— Você tem certeza de que lembra de tudo mesmo? — perguntou, delicada.

Vinícius soltou um suspiro cansado.

— Sim. Minha memória está intacta até o acidente. E essa história parece… sei lá… uma montagem, uma armação, uma mentira mal feita. Não sei o que pensar.

— E o que você vai fazer agora? — Júlia perguntou, preocupada.

— Voltar — respondeu ele, firme, apesar da dor. — Preciso descobrir o que está acontecendo.

— Mas você ainda precisa de cuidados — ela lembrou, gentil, mas firme. — Não pode simplesmente levantar e viajar. Vai colocar sua recuperação em risco. E além disso… — ela hesitou — …você não sabe quem está te esperando lá.

Vinícius a observou por alguns instantes. Júlia era sensata — sensata demais para ser ignorada.

— Eu sei. — Ele passou a mão pelo cabelo, respirando fundo. — Eu só não posso ficar aqui enquanto alguém inventa uma vida ao meu redor.

Júlia sorriu de leve.

— Vinícius… eu só quero que você esteja bem. A última coisa que precisa agora é se apressar e piorar tudo.

Ele abriu um sorriso fraco.

— Se não fosse você, eu não estaria aqui para me preocupar com nada disso. Eu te devo muito.

— Você não me deve nada — ela respondeu imediatamente. — Eu fiz o que qualquer pessoa faria.

Ela voltou a abrir o livro, mas antes de retomar a leitura, acrescentou:

— Só… pense bem antes de agir. Às vezes, voltar rápido demais pode colocar você no meio de um problema ainda maior.

Vinícius assentiu, pensativo.

Enquanto olhava para o celular parado em sua mão, algo dentro dele se apertou.

Havia uma mulher em sua casa dizendo ser sua esposa.

Henrique estava alarmado.

E nada disso batia com a vida que ele lembrava ter.

Ele estava prestes a voltar para uma realidade que não reconhecia.

Mas precisava enfrentá-la.

Custasse o que custasse.

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