Mundo ficciónIniciar sesiónVinícius Albuquerque, aos 30 anos, era um homem de presença imponente e charme irresistível. Com 1,95 m e físico atlético, sua postura naturalmente exalava confiança. Os cabelos castanho-claros, curtos e lisos, moldavam o rosto de mandíbula forte, enquanto seus penetrantes olhos verde-mel pareciam sempre guardar segredos — um brilho indecifrável que atraía olhares por onde passava.
Mas agora, sentado na cama do hospital, aquela imponência parecia atenuada. As dores nas costelas e o cansaço evidente davam a ele uma vulnerabilidade rara. Os olhos, antes firmes, estavam distantes, perdidos na janela aberta enquanto tentava assimilar tudo o que havia acontecido. Ao seu lado estava Júlia. Aos 27 anos, Júlia tinha uma beleza discreta, tranquila. Longos cabelos castanhos geralmente presos de maneira despretensiosa, olhos castanho-claros que carregavam serenidade e uma leveza que contrastava profundamente com o caos interno de Vinícius. Vestia-se de forma simples, refletindo a vida humilde na pequena vila onde morava — lugar onde havia encontrado o corpo dele caído na estrada. — Você está com uma cara melhor hoje — comentou ela, fechando o livro que lia e oferecendo um sorriso suave. — Acho que estou me acostumando com a dor — respondeu Vinícius, retribuindo o sorriso com esforço. — Mas as costelas ainda fazem questão de me lembrar que eu não estou exatamente de férias. Júlia soltou um riso baixo. — Não tenha pressa. Os médicos disseram que sua recuperação vai levar algum tempo. Antes que ele pudesse responder, o telefone vibrou sobre o criado-mudo. Vinícius o pegou, franzindo o cenho ao ver o nome na tela. Henrique. Suspirou. — É um amigo — murmurou para Júlia, antes de atender. Assim que colocou o celular no ouvido, ouviu o tom urgente do outro lado. — Vinícius, o que está acontecendo? — disparou Henrique. — Cara, que história é essa de casamento? Quem é Clara? Ela está aqui, dizendo que vocês se casaram! Você nunca me falou nada disso! Vinícius congelou. — Casado? — repetiu, confuso. — Henrique, eu não me casei. Do que você está falando? Júlia, que ouvia apenas fragmentos, levantou o rosto com curiosidade cautelosa. Henrique insistiu: — Então você não se lembra? Cara, essa mulher está aqui, dizendo que vocês oficializaram tudo há pouco tempo. Ela parece… sincera. Assustada. Isso tem a ver com o acidente? Você perdeu a memória? Vinícius passou a mão pelo rosto, frustrado. A dor física era pequena perto da confusão que o atingia agora. — Não, Henrique. Minha memória está normal. Eu lembro de tudo antes do acidente. Das viagens, dos negócios… mas casamento? Isso não existe. Henrique ficou em silêncio por alguns segundos. — Vinícius… acho melhor você voltar logo. Tem alguma coisa muito errada acontecendo aqui. E a Clara está perdida. Diz que te ama, que vocês estavam juntos… É estranho, cara. Muito estranho. Vinícius sentiu a pulsação acelerar. — Eu ainda preciso de alguns dias. Assim que eu melhorar, volto e converso com ela. Seja lá o que isso for. — Não demore. — Henrique soou tenso. — A situação está fugindo do controle. A ligação encerrou. Vinícius ficou um tempo com o celular na mão, respirando devagar, como se tentasse organizar o caos interno. Júlia finalmente perguntou: — Casamento? — seus olhos se estreitaram, preocupados. — Você me disse que não tinha esposa… Ele a encarou, balançando a cabeça. — Eu não tenho. Pelo menos… não que eu me lembre. Henrique disse que uma mulher está na minha casa afirmando que somos casados. Nada disso faz sentido. Júlia estudou o rosto dele com cuidado. — Você tem certeza de que lembra de tudo mesmo? — perguntou, delicada. Vinícius soltou um suspiro cansado. — Sim. Minha memória está intacta até o acidente. E essa história parece… sei lá… uma montagem, uma armação, uma mentira mal feita. Não sei o que pensar. — E o que você vai fazer agora? — Júlia perguntou, preocupada. — Voltar — respondeu ele, firme, apesar da dor. — Preciso descobrir o que está acontecendo. — Mas você ainda precisa de cuidados — ela lembrou, gentil, mas firme. — Não pode simplesmente levantar e viajar. Vai colocar sua recuperação em risco. E além disso… — ela hesitou — …você não sabe quem está te esperando lá. Vinícius a observou por alguns instantes. Júlia era sensata — sensata demais para ser ignorada. — Eu sei. — Ele passou a mão pelo cabelo, respirando fundo. — Eu só não posso ficar aqui enquanto alguém inventa uma vida ao meu redor. Júlia sorriu de leve. — Vinícius… eu só quero que você esteja bem. A última coisa que precisa agora é se apressar e piorar tudo. Ele abriu um sorriso fraco. — Se não fosse você, eu não estaria aqui para me preocupar com nada disso. Eu te devo muito. — Você não me deve nada — ela respondeu imediatamente. — Eu fiz o que qualquer pessoa faria. Ela voltou a abrir o livro, mas antes de retomar a leitura, acrescentou: — Só… pense bem antes de agir. Às vezes, voltar rápido demais pode colocar você no meio de um problema ainda maior. Vinícius assentiu, pensativo. Enquanto olhava para o celular parado em sua mão, algo dentro dele se apertou. Havia uma mulher em sua casa dizendo ser sua esposa. Henrique estava alarmado. E nada disso batia com a vida que ele lembrava ter. Ele estava prestes a voltar para uma realidade que não reconhecia. Mas precisava enfrentá-la. Custasse o que custasse.






