o quarto frio

Amara

As palavras de Rebeca martelavam na minha mente. Por mais que eu não acreditasse nessas histórias absurdas de monstros e rituais, um arrepio gelado percorria meu corpo. Já fazia horas que havíamos despertado, e não havia sinal de ninguém. A porta estava trancada, e a fome nos corroía por dentro.

O silêncio era absoluto. Rebeca dizia que havia um corredor escuro e sombrio do outro lado, mas tudo o que víamos era uma enorme porta de ferro, trancada, sem janelas ou qualquer fresta por onde entrasse luz. O lugar parecia um túmulo. Eu já estava sufocando.

O ar parecia pesado, carregado de um silêncio espesso que tornava tudo ainda mais sufocante. A cada minuto que passava, sentia uma ansiedade crescente, como se o tempo estivesse prestes a se diluir por completo entre aquelas quatro paredes. Rebeca, sentada em um canto, mantinha o olhar perdido, como se escutasse vozes que só ela compreendia. Por vezes, murmurava palavras desconexas, envolvendo-se em pensamentos que pareciam lhe consumir.

Com o estômago roncando, tentei afastar as imagens que Rebeca plantara em minha cabeça. Mas era inútil. O medo tem o poder de se infiltrar até mesmo nos mais céticos, e, ali, vulnerável, tudo se tornava mais plausível — ou, ao menos, mais aterrador. Busquei por algum som, um indicativo de que não estávamos completamente esquecidas. Nada. Apenas o zumbido baixinho das luzes de emergência, como se até a eletricidade hesitasse em atravessar aquele lugar.

Respirei fundo, sentindo o cheiro de poeira misturado com o perfume barato que ainda pairava no ar, provavelmente de alguma de nós. Quis me convencer de que era apenas uma situação passageira, que logo alguém viria, que tudo não passava de um grande erro. Mas os olhares ao meu redor, marcados pelo medo e pela desesperança, diziam o contrário.

Caminhei até a porta e tentei girar a maçaneta, mas estava trancada. Rebeca apenas me observava, sem dizer uma palavra, o que só aumentava minha frustração.

— Já faz horas que estamos aqui. Não tem ninguém do outro lado da porta, não escuto nada além desse maldito silêncio. Cadê os monstros que você disse que existiam nesse lugar? — perguntei, encarando-a.

Ela apenas balançou a cabeça, com uma expressão vazia. Foi então que Marcela, outra garota do grupo, resmungou:

— Essa garota está completamente alucinando. Não existem criaturas como ela descreveu. O que existe são homens cruéis querendo nos matar de fome, de sede e de medo.

Assenti com a cabeça, concordando com Marcela. Jaqueline estava encolhida na cama, abraçando os próprios joelhos. Olhei ao redor. Não havia rota de fuga. Apenas algumas luzes de emergência iluminavam fracamente o breu que nos cercava.

— Éramos seis quando fomos tiradas do avião. Seis garotas na mesma van. O que aconteceu com as outras duas? — perguntei, tentando entender.

— As duas mais novas foram levadas para o outro lado assim que chegamos. Você estava desacordada, não viu... Elas eram muito jovens, talvez virgens. Acho que foram escolhidas para algum tipo de ritual satânico — disse Rebeca, com um brilho estranho nos olhos.

Naquele momento, tive certeza: ela estava completamente fora da realidade.

— Eles não vão fazer ritual nenhum, Rebeca. Eles provavelmente abusaram do corpo delas. São homens, não demônios. Homens abusivos e doentes. Está na hora de você encarar a realidade — respondi com firmeza. — Não existem monstros, vampiros ou lobisomens. O que existe são maridos violentos, namorados abusivos, padrastos perversos. Homens que torturam mulheres todos os dias.

Me sentei na cama, sem forças para continuar. Lembrei da minha mãe, de como ela vivia apanhando do meu pai. Talvez por isso eu nunca tenha desejado casar. Talvez por isso eu lute tanto para não depender de ninguém.

— Você não acredita..., mas quando eles entrarem por aquela porta e nos atacarem, vai ser tarde demais — murmurou Rebeca, se enfiando nos próprios pensamentos.

— Pois que entrem. Eu estarei aqui. Pronta para lutar. Seja lá o que forem, homens sempre são monstros no pesadelo de alguma mulher.

Ela me encarou por um instante, depois se virou de costas, em silêncio. Aos poucos, todas começaram a se encolher, vencidas pelo cansaço, pela fome, pelo medo. Estavam perdendo as forças... e era isso que eles queriam. Nos quebrar por dentro. Nos transformar em presas fáceis.

Mas eu não. Eu não vou fraquejar.

Fechei os olhos e respirei fundo. Lembrei da minha infância. Das vezes em que meu pai, bêbado, nos trancava no quarto sem comida. Da minha mãe apanhando no nosso lugar. Do meu irmão, que agora seguia os mesmos passos do nosso pai. Isso me transformou. Me moldou. Me ensinou a lutar.

Um ruído cortou meus pensamentos.

A maçaneta girou.

O som do ferro ecoou no cômodo como um trovão. Me levantei rapidamente, o coração disparado. Rebeca também se ergueu. Nossos olhos se encontraram, e eu fiz um gesto com a cabeça: Prepare-se.

Fechei o punho com força. Minha respiração estava acelerada, o coração prestes a explodir no peito. A porta foi se abrindo lentamente, como se o tempo estivesse em câmera lenta. Talvez fosse o medo distorcendo minha percepção.

Quando finalmente se abriu por completo, três figuras surgiram na sombra. Dois homens grandes e grotescos. O terceiro, um pouco menor, tinha olhos de um azul tão intenso que parecia sobrenatural.

Mas eu não hesitei.

Treinei defesa pessoal. Aprendi a lutar. E mesmo que nunca tenha imaginado usar essas técnicas contra sequestradores brutais, eu estava pronta.

Rebeca também assumiu posição de ataque ao meu lado.

Seja quem forem, monstros ou homens, eles vão ter que lutar até o fim para me derrubar.

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