Piccola

Capítulo 3

Vinícius Strondda

Saí do quarto e fechei a porta com força. Aquele olhar dela ainda queimava no fundo da minha cabeça, mas não deixei que transparecesse nada.

Irei atrás do maledetto figlio de puttana que ousou machucar a Lucia daquele jeito.

Não a conheço, não sinto nada por ela, mas não aceito esse tipo de coisa e nem quero ninguém incomodando no meu casamento.

Quando passei pelo jardim, esbarrei numa rosa vermelha. Estava bonita demais, intocada demais. Estiquei a mão, arranquei-a e esmaguei as pétalas entre os dedos. Sorri de canto. Aquilo era o retrato da minha vontade: destruir o que os outros tentavam manter perfeito.

Abri o portão e encontrei meus homens perfilados como cães à espera de comando. Eu já tinha avisado pelo rádio, era o mínimo que poderiam fazer.

— Escutem bem. Quero um tal de Dinamite. Ainda hoje. Vivo, mas de joelhos. Alguém sabe quem é?

Carlo ergueu o queixo, com aquele jeito insolente que só ele tinha coragem de ter comigo.

— Chefe, esse eu conheço. Um merda de traficante. Vive atrapalhando nossas cargas nas docas.

Meus lábios se curvaram num sorriso frio.

— Melhor ainda. Vamos acabar com isso.

Dei um passo, mas ergui a mão, segurando a sede deles.

— Esperem lá fora. Eu vou buscar a ragazza.

Assentiram.

Voltei e abri a porta rapidamente. Ela estava de pé, os braços cruzados, tentando parecer firme. Mas a tensão no corpo a denunciava. Vi quando abaixou o olhar do teto. Estava tramando um jeito de sair.

— Vem comigo.

— Pra quê? — a voz falhou.

Dei dois passos, olhando seu cabelo vermelho em contraste com a pele branca e olhos verdes com delineado preto. Caralho! É exótica. Tem a boca bonita..., mas vou deixar pra avaliar depois. Agora quero resolver essa pendência.

— Vem! — puxei a ragazza pelo braço.

— Onde estamos indo?

— Atrás do cara que ousou te machucar. Vai morrer ainda hoje.

Ela arregalou os olhos.

— Não! Não precisa… não o mate.

— Não matar? Está debochando piccola?

Avancei rápido. A pistola gelada encostou em seu pescoço. Vi o tremor percorrer seu corpo inteiro.

— Tá com pena, porra? — rosnei baixo. — Esse maledetto vai visitar o diavolo. Só preciso que você veja o rosto dele e confirme se é o mesmo. Ninguém mais vai me fazer de idiota.

— Eu não quero…

— Sou eu que mando aqui, caralho! — colei meu rosto no dela, o hálito quente. — Se abrir o bico pra me envergonhar, não vou te dar um tiro de presente por sua morte, vai apodrecer nas celas do meu pai por traição, no meio de monstros que não perdoam mulher. É isso que você quer?

As mãos dela estremeceram. A coragem morreu no olhar. Negou rápido.

— Então anda logo.

Arrastei-a pelo braço até o carro, enfiei no banco do passageiro e bati a porta. Entrei do outro lado, liguei o motor. Durante o trajeto, observei de relance: ela respirava rápido, os dedos presos ao tecido da saia. O medo transbordava, mas havia raiva também. E isso me divertia.

Chegamos ao galpão. Meus homens já esperavam. Dois caminhões foram posicionados de modo a bloquear a entrada. Outros quatro seguravam metralhadoras, cobrindo as janelas. Dei o sinal.

— Vai.

Em segundos, as portas de ferro foram arrombadas com correntes e uma barra de ferro. O som metálico ecoou pelo ar, assustando os bastardos lá dentro. O primeiro dos meus invadiu chutando um capanga contra a parede, o segundo explodiu uma luz de emergência para cegar o ambiente. Eu entrei logo depois, Taurus 9 mm dourada em punho, avançando como dono do território.

— Todo mundo no chão! — gritei, e meus homens abriram fileiras, encurralando os traficantes.

Os ratos largaram armas, mãos para o alto. O cheiro de suor e medo tomou conta. Cada respiração deles era um pedido de clemência que eu não pretendia atender.

Me voltei para o carro. Ela ainda estava sentada, imóvel, como se o banco fosse uma prisão.

Abri a porta que estava travada.

— Vamos.

— Não… — tentou se segurar. Inclinei o corpo sobre ela.

Levei o cano da pistola até seu queixo.

— Quer amanhecer presa? Fodida, usada? Porque em menos de um minuto esses animais fazem isso com você.

Ela tremeu, mas obedeceu, saindo devagar. Caminhou ao meu lado, o corpo rígido, os olhos arregalados. Analisava cada cadáver vivo que respirava ali dentro, cada capanga ajoelhado. Era como se estivesse vendo um inferno pela primeira vez. Só que duvido que seja.

— É aquele ali? — apontei com o cano para o homem que Carlo tinha indicado.

Ela balançou a cabeça em negação.

A raiva ferveu.

— É algum daqui, porra?! — avancei, meu corpo colado ao dela, sentindo o tremor correr dos ombros até a ponta dos dedos.

Ela engoliu em seco.

— Não… não é nenhum deles.

Olhei nos olhos dela. Havia medo, mas também algo escondido, como se tentasse me enganar. Isso bastava.

— Foda-se. — ergui a pistola. — Vão morrer assim mesmo.

Atirei. Um estampido seco, depois outro. Meus homens seguiram meu ritmo, disparando em uníssono. O som ensurdecedor preencheu o galpão. Os corpos tombaram um a um, espalhando sangue no chão de concreto. São malditos traficantes baratos que só fazem merda pra atrapalhar os carregamentos do meu pai. Estou farto deles.

Lucia gritou. Um grito desesperado, puro. Virei devagar, encarei-a. Ela mordeu os lábios e silenciou.

Tentou correr quando dei as costas, mas minha mão agarrou seu braço antes mesmo do segundo passo.

— Nem pensa.

A empurrei de volta para o carro, enfiando-a lá dentro como posse minha. Ela respirava rápido, as mãos trêmulas.

— A gente vai conversar de perto piccola. Va bene? — virei passando a Taurus nela. — Ninguém me faz de besta. Espera só a gente chegar.

Observei o rosto dela por um instante. O medo brilhava, mas também havia fúria. Ela não é nada tradicional. Gosto disso.

E foi ali que decidi: Lucia Bianchi não fugiria de mim. Nunca.

Mas essa noite não me escaparia. Não a deixaria ir até me contar porque não queria o maledetto morto.

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