Marcel
O escuro não me assusta mais.
Ele é tudo que tenho. Mas esta escuridão… ela é diferente. Cheira a feitiço e luxúria. A magia antiga dança ao meu redor como serpentes silenciosas, e o vento que atravessa a estrutura onde estou preso sopra com um propósito inquietante.
Ouço cada dobra da lona se esticando com o baque das correntes de ar. É uma tenda. Ampla. Firme. Rica. O som dos tecidos grossos se agitando, dos metais que pendem das estacas, do líquido espesso borbulhando em frascos, tudo denuncia um espaço pensado para o conforto, para o controle… para a prisão.
Há poder aqui.
Posso senti-lo nas pulsações suaves dos objetos à minha volta. Artefatos encantados, itens raros que tremem com energia contida, como se a qualquer momento fossem despertar. Criaturas suspiram, assobiam, ou arranham gaiolas enfeitiçadas. O ar é espesso com o peso do oculto. E mesmo cego, vejo tudo com clareza cruel. Porque o som me revela o que os olhos não podem mais.
Meus dedos tocam o chão frio e úmi