O cheiro da dor é o primeiro a me atingir.
Não da minha.
A dor do meu filhote. Sim, meu filhote, porque de agora em diante, ele será como se eu tivesse feito com minha carne e meu sangue, junto a minha loba, minha companheira.
É como sangue diluído em medo e abandono, um lamento sem som. O ar se torna pesado, quase vivo. Me atravessa como uma lâmina e faz meus pelos da nuca se eriçarem, mesmo cego, porque sinto que aquela força que atingiu meus ossos, está se comprimindo cada vez mais dentro de mim.
A força dentro de mim não é coragem, é quase como selvageria. Uma fúria que há muito julgava morta, sufocava na minha vergonha, na minha inércia. Mas ela acorda agora, rugindo nas veias, rasgando a fraqueza que me domina.
Tento me mover, mas as correntes feitas com acônito queimam como ácido na minha pele. Mordo o próprio lábio até sentir o gosto do sangue, rangendo os dentes, tudo para não gritar.
Mas grito mesmo assim, um grito que mais parece a sombra do meu rugido. E mesmo em meio