— Eu tenho um nome, senhora — sussurra ela, obstinada com minha mãe.— Não estou brincando de esconde-esconde. Precisava de um tempo sozinho — digo exausto.— Sozinho? É notório — responde Victoria, afiada, olhando para Sara — Você deveria estar com sua noiva neste momento. E você, Sara, não é bem-vinda nesta casa, nem ao funeral do meu falecido marido. Poderia se retirar?Sara contém seus lábios de insultar Victoria, em vez disso quer ir embora sem brigar. O que não é justo. Se ela veio a esta toca de lobos foi por minha causa, não para dar pêsames hipócritas a ela. Antes que Sara vá embora, seguro-a pelo braço.— Sara é bem-vinda onde quer que eu esteja, e se é seu desejo me acompanhar no enterro do meu pai, que assim seja — contradigo Victoria.Tais palavras a enfurecem.— Ela não vai! Você terá que passar por cima da sua mãe para que—— Você poderia se calar de uma vez por todas, Victoria? — peço enfurecido.Minha mãe fica petrificada, Sara também está impressionada.— Já disse o q
Fiquei sabendo da morte do pai de Loren ontem à noite, e desde que soube pouco consegui dormir. Principalmente pensando em como ele se sentiria com tamanha perda. A relação entre Lorenzo pai e Lorenzo filho não era simples, nem boa. Mas eu sabia que Loren tinha lutado toda sua vida para agradá-lo e para obter sua atenção.Em muitas das voltas que dei na minha cama, estive a ponto de escrever ou ligar para ele, mas em cada uma delas me detive porque não sabia como ele reagiria. Também não sabia o que escrever, e menos ainda era seguro ou prudente ir à mansão dos Lewis àquela hora.Esperei o momento certo, ir ao funeral. Isso deveria ser socialmente bem visto e deveria se adequar aos limites que Loren havia imposto entre nós. Foi assim que coloquei um bom conjunto de luto, um para não levantar fofocas, e ideal para fugir, chutar ou atacar, o que fosse necessário. Nunca se sabe com essa gente.Enquanto vou me aproximando do meu carro, aquele onde Jesus está me esperando, percebo que ele m
A Jesus e a mim faltava um prêmio de atuação para cada um, simulando normalidade entre tantos abutres. Justo em um dos meus passeios vejo um abutre menor, Julián, e imediatamente dou as costas para que não me capture.— Sara? É você? — pergunta-me ele.Amaldiçoo em minha cabeça e sou obrigada a encará-lo. Estou com minha máscara colocada, ainda que ela caia com facilidade. Julián estava com os olhos vermelhos e a aparência péssima. Dos gêmeos eu só tenho lembranças de assédio, esses moleques como costumavam acabar com a minha paciência, mas hoje é diferente. Seu terrível pai morreu.— Meus... pêsames... Julián — consigo dizer.Ele tenta sorrir com sua típica indiferença, uma que não lhe sai bem.— Por que você não procura dar os pêsames ao Lorenzo? É ele quem você deve estar procurando.Minha mão vai sem controle até sua bochecha. Belisco com força seu rosto, esse em que não sobra quase nada de gordura como quando era um garotinho.— Menino insolente... — aperto com mais força e sussur
Meus pés batem no chão com constância e meu coração bate com uma força sobrenatural. Eu finalmente consegui, uma promoção no meu trabalho, e o primeiro que tinha que saber disso era Andrew, meu noivo. Caminho pelo corredor tão emocionada e agarrada à minha pasta que agradeço por ninguém estar neste corredor. Vão pensar que estou louca ou que não sei me controlar pelo sorriso enorme que tenho no rosto. Mas quem poderia me culpar.Minha vida estava se transformando no que sempre deveria ter sido. Uma vida feliz e abençoada. Eu me casaria em alguns meses com o amor da minha vida, e finalmente deixaria de servir café na empresa. As lágrimas, humilhações e solidão acabariam. Eu, Marianne Belmonte, deixaria de ser o saco de pancadas da minha família, seria a esposa de um promissor empresário. Finalmente, todos me respeitariam e aceitariam.—Querido? Tenho boas notícias... — digo abrindo a porta do apartamento do meu futuro marido.As luzes da sala estão apagadas e há uma melodia suave de Jaz
Na manhã de ontem, acordei com o homem que amava conversando sobre como estávamos animados com o casamento dos nossos sonhos. Na manhã de hoje, acordei em um quarto de hotel barato com os olhos inchados de tanto chorar. Não haveria casamento, não haveria um final feliz para mim, não teria a família com a qual sonhei. Fiquei praticamente sem nada. Sem um teto, e quem sabe se Andrew teria a decência de me devolver minhas roupas. A única coisa que me restava era meu trabalho. Um ao qual voltei a me trancar em meu cubículo para mergulhar no meu mundo, os números. Trabalho para a Belmonte Raízes, uma imobiliária de bom tamanho dedicada ao que todas as imobiliárias fazem: comprar e vender imóveis. E eu, que tinha quase três anos de formada em administração de empresas, trabalhava nela desde então. O fato de compartilhar o mesmo sobrenome no nome da empresa não é coincidência. Seu dono é meu pai, Belmonte Raízes é uma empresa familiar. Uma na qual conquistei meu posto por mais que meus col
Tenho uma lista interminável de humilhações provocadas pela minha família em minha memória. A vez em que vim a esta casa me ajoelhar diante do meu pai para que me desse dinheiro para o tratamento da minha mãe. A vez em que Amanda e sua mãe me deram uma caixa com roupas usadas e rasgadas, porque eu "precisava me vestir melhor".Mas me pedir para ajudar a organizar o casamento do meu ex-parceiro com sua amante grávida, que é minha meia-irmã, essa devia ser uma das mais sádicas da lista.—Não ajudarei Amanda a organizar seu casamento com Andrew. Por que eu faria tal coisa? — digo lentamente como se estivesse dando tempo ao meu pai para confessar que isso é uma piada de mau gosto.Sergio me olha com desaprovação, Amanda o faz com um sorriso que tenta esconder enquanto come sua salada de frutas.—É decepcionante que você não decida ser uma pessoa melhor neste assunto. Se não for, me verei obrigado a reconsiderar seu contrato em nossa empresa. Ouvi dizer que você conseguiu assinar para ser u
Estou em uma nuvem de prazer da qual não quero descer. Os beijos vão e vêm, assim como as carícias em minhas pernas nuas. Me contorço entre os lençóis brancos e desfruto do calor do homem sobre mim. Não quero que isso nunca acabe.—Você é linda, Marianne — sussurra ele em meu ouvido.—Você também é lindo — sussurro eu, soando tão ousada como nunca havia sido.Mordo seu lábio com delícia e isso o anima a ir mais rápido. A forma como está entrando e saindo do meu corpo me faz soltar muitos gemidos lastimosos que nem sabia que podia fazer.—Se for demais para você, me diga... — soa contido.Demais para mim? Que coisas ele dizia? O pequeno incômodo ou a pontada de dor que senti no início? Isso não é nada comparado ao prazer que me domina. O sexo era a melhor coisa do mundo, nem sei do que eu tinha tanto medo.—Se for pouco para mim também devo te dizer? — digo acariciando seu rosto — Vá mais rápido.E mais, e mais rápido ele foi......Acordo rindo. Sim, rindo e com uma terrível dor de cab
É bom ter uma amiga que se preocupe com você. Giana me confirmou isso ao me deixar dormir em seu apartamento no sofá da sala até que eu consiga um lugar para alugar. Teria que fazer malabarismos com meu orçamento e esperar meu novo salário no final do mês para ter uma soma decente. Não é que eu seja ruim com minhas finanças, é que tenho pagado algumas dívidas da minha mãe e meu salário não era muito grande.Eu tinha um lugar para ficar que não fosse um hotel pelas próximas noites. Isso é tranquilizador. Eu estava muito, muito tranquila em relação à minha vida e meu lugar no universo. Disso me convenço no elevador do meu trabalho. Respiro fundo e aperto como se fossem me roubar minha pasta.—Está pensando de novo no desconhecido de ontem à noite? — pergunta Giana divertida.—Não. Estou pensando que hoje será um bom dia — falo com otimismo. Aquele que eu sentia, muito, muito dentro.—Não que eu queira arruinar seu positivismo, mas você não sentiu algo estranho no ambiente da recepção? —