Recolho os pratos, mas Lucile se levanta antes que eu insista em lavar.
— Deixa que eu faço. — Ela leva a louça até a pia.
Encosto na bancada e cruzo os braços, observando.
— Não sabia que vinha com manual de boa convidada.
— E eu não sabia que você deixava as panelas queimarem desse jeito. Na Itália você foi melhor. — Ela me lança um olhar por cima do ombro, provocando.
Dou uma risada curta, mas não tiro os olhos dela. O jeito que se movimenta, que enrola uma mecha de cabelo atrás da orelha, que canta baixinho sem perceber… tudo nela é natural e devastador.
Me aproximo devagar, até ficar atrás dela. O cheiro do shampoo ainda fresco no cabelo me atinge como um golpe certeiro. Inclino a cabeça, quase encostando nos fios.
— Posso confessar uma coisa?
Ela continua lavando a louça, mas a respiração falha.
— Deve.
— Não consigo me concentrar em mais nada quando você está por perto.
As mãos dela param. Ela fecha a torneira e fica imóvel. Vira-se devagar, me encontrando