O canal de Valentina já tinha cinco vídeos no ar. Nenhuma produção cinematográfica, longe disso. Ela usava o celular equilibrado precariamente sobre uma pilha de livros de culinária, caixa de sapato e um tripé improvisado com fita crepe. Editava tudo num aplicativo gratuito que travava mais do que funcionava e despejava propagandas irritantes a cada corte. Mas, ainda assim, os números começavam a subir.
Devagar. Tímidos. Como brotos teimosos nascendo no meio do asfalto. Mas subiam.
Cada curtida era como um empurrãozinho. Cada comentário, um pequeno milagre que dizia: “vai, continua”. E ela continuava.
Naquela manhã, entre goles de café morno e farelos de pão na mesa, Valentina olhou para a tela do celular e disse, com um brilho atrevido nos olhos:
— Se a gente chegar a mil inscritos, eu tatuo um lápis no braço. Juro.
Rafael ergueu a sobrancelha, rindo.
— Tatuagem é pouco. Devia fazer um vídeo dançando "Evidências" de terno e gravata!
— Nunca.
— Tô anotando aqui — ele disse, pegando o