Mirella
Acordei com uma leve dor nas costas e a sensação de que o ar ao meu redor estava mais denso. Como se a casa tivesse prendido a respiração.
A enfermeira ajeitava a bolsa de soro ao lado da cama, discreta como sempre. Olhou para mim e sorriu com gentileza.
— Dormiu bem, Senhora ?
Assenti com a cabeça, mas não consegui mentir.
— Tive sonhos estranhos. Silenciosos demais.
Ela não respondeu. Só anotou algo na prancheta e me ofereceu água. Aceitei, tentando afastar a inquietação do peito.
Meus dedos repousaram sobre a barriga. Dom. Meu filho. Ainda nem havia chegado ao mundo e já estava no centro de uma tempestade invisível. Eu podia sentir. O instinto, talvez. Ou apenas o fato de viver ao lado de um homem como Vincent.
Ele não estava no quarto, e isso me incomodava mais do que eu queria admitir. Levantei devagar, ignorando o protesto das costelas, e caminhei até a varanda do quarto. A noite ainda cobria o céu, mas havia uma movimentação discreta nos fundos da propriedade. Carros si