O fim de semana passou como um borrão. Eu me fechei em casa, tentando proteger o Tiago das línguas afiadas da cidade, mas sabia que não podia viver escondida para sempre. A cada cochicho, a cada olhar atravessado na rua, eu sentia o peso da condenação sem julgamento.
Na segunda-feira, voltei cedo para a clínica.Quando entrei, encontrei o Dr. Renato parado no corredor, mexendo nos papéis que segurava, mas parecia mais preocupado comigo do que com qualquer prontuário.
— Dormiu mal, não é? — perguntou sem rodeios.
Assenti, sem forças para disfarçar.
— Um pouco. Ainda estou… digerindo algumas coisas.
Ele franziu o cenho, como se quisesse tirar cada dor de dentro de mim à força.
— Helena, não deixe que falem mais alto do que a sua verdade. — disse firme. — Eu sei quem você é. Sempre soube.
Aquela frase me pegou desprevenida. Respirei fundo, desviando o olhar.
— Às vezes eu mesma esqueço quem sou, Renato.
Ele estendeu a mão, num gesto quase involuntário, e tocou levemente o meu braço. Foi r