Os dias seguintes à briga foram um castigo silencioso. Renato mal falava comigo. Dormíamos na mesma cama, mas era como se houvesse um abismo entre os lençóis. Ele acordava cedo, saía antes do sol nascer e voltava tarde, exalando perfume caro e exaustão. Às vezes fingia dormir para evitar conversa, outras vezes me olhava com uma expressão fria, calculada, que me fazia lembrar o Leonardo nos seus piores dias.
No início, tentei me aproximar. Preparei jantares, passei roupa, fiz tudo o que uma mulher tola e culpada faz quando quer ser perdoada. Mas ele continuava distante. Quando o Tiago perguntava por que o “papai” não jantava mais com a gente, eu dizia que ele estava ocupado com o trabalho. Mentira. O problema era eu.
Na clínica, o clima era diferente. Tomás vinha todos os dias, sempre com um sorriso no rosto e uma piada pronta. Quando eu passava pelo corredor, ele dizia “bom dia, doutora Helena”, do mesmo jeito brincalhão de sempre, e aquilo me arrancava um sorriso que eu já não sabia