Nos dias seguintes, a clínica se transformou em um canteiro de obras. O cheiro de tinta fresca e madeira cortada tomava conta do ambiente, e o som constante das ferramentas preenchia o ar. Tomás era pontual, falante e tinha o costume irritante, mas engraçado, de assobiar músicas antigas enquanto trabalhava.
— Você sabe que está me deixando louca com esse assobio, né? — brinquei, apoiada no balcão, enquanto ele lixava uma das prateleiras do consultório pediátrico.
— Ah, doutora Helena, quando eu assobio é porque estou inspirado! — respondeu, piscando. — E é bom sinal, significa que o móvel vai ficar perfeito.
Ele me chamava de “doutora” o tempo todo, apesar de eu insistir que não era médica. No início me incomodava, depois passou a soar como uma espécie de brincadeira particular entre nós.
Passei a acompanhá-lo em todos os cômodos, dando opiniões, anotando medidas, ajudando a escolher tons de madeira e tecidos para as poltronas. Era estranho, depois de tantos meses de tensão, escândalo