Recebi a ligação de Aston enquanto revisava alguns papéis do hospital, no meu escritório particular, em casa. O ambiente era silencioso, quebrado apenas pelo leve tique-taque do relógio antigo pendurado na parede de madeira escura. A luz do abajur dourado projetava sombras sobre os livros e documentos empilhados na mesa de carvalho maciço. Eu estava cansado, mas não ao ponto de imaginar o que ele me diria.
A voz dele estava carregada de algo que eu não ouvia com frequência: desespero contido.
— Nicolas... preciso te contar uma coisa. Vi sua filha hoje. Amanda. Ela estava com Carlos. Juntos. De mãos dadas, na rua. Como um casal.
Por um momento, o ar pareceu desaparecer da sala. Fiquei em silêncio por alguns segundos. Não conseguia acreditar no que ouvia. Achei que, depois de tudo o que ela tinha presenciado... depois do que ele fez... Amanda teria se libertado. Mas não.
— Você tem certeza do que viu? — perguntei, com um nó apertando minha garganta.
— Infelizmente, tenho. Ela o defendeu