Na manhã seguinte, Deborah apareceu com a prancheta de sempre, mas o rosto estava menos pesado. O capitão Vieira tinha deixado uma lista de materiais destinados às atividades infantis — livros, cadernos, lápis de cor — e autorização oficial para transformar o galpão na sala que a gente sonhava.
— Não vai ser só improviso — disse Deborah, tentando conter um sorriso. — Vai ser uma escola mesmo.
June ergueu os braços no ar, como se comemorasse um gol.
— Eu sabia que a gente era importante demais pra ignorarem — disse ela, num tom de brincadeira que só escondia o orgulho.
Eu não respondi de imediato. Passei a mão pela lateral da porta do galpão, sentindo a madeira áspera. Aquela sala tinha começado com uma lona no chão e um punhado de cadernos molhados. Agora, era algo maior — e eu também era.
— Então vamos fazer direito — falei. — As crianças merecem.
— Você vai ficar responsável? — perguntou Deborah.
Eu hesitei. Por um instante, senti o medo antigo: o medo de não dar conta, de fracassar