Mundo de ficçãoIniciar sessãoCapítulo 3
Mudança brusca Scarlett Johnson - Cadê o menino? - Olhei para o homem. Ele era grande, vestindo um terno escuro impecável, apesar da hora tardia. Seus olhos eram penetrantes, avaliando-me com uma velocidade assustadora. Ele não parecia um policial, mas tinha a aura de alguém acostumado a obter o que queria. - Scarlett Johnson? - A voz dele era rouca, com um sotaque que não consegui identificar, mas que soava de algum lugar da Itália. - Quem está perguntando? - perguntei, tentando parecer mais brava do que assustada. - Meu nome é Enzo. Não temos tempo para brincadeiras. Estou procurando um garoto. O filho de Salomé. Você sabe onde ele está? O nome de Salomé e o conhecimento do bebê me atingiram com o peso de um caminhão. Então era isso. Este homem era conectado. Conectado ao segredo que Salomé havia guardado com tanto desespero. Eu tinha duas opções: mentir e esconder Luigi, ou dizer a verdade e expor meu pânico. Mentir para alguém com aquela autoridade nos olhos parecia um erro fatal. Eu tinha a sensação de que ele já sabia a resposta, e mentir só me marcaria como inimiga. - Eu não sei do que você está falando. - eu menti, a voz falhando. Enzo não se mexeu. Ele apenas inclinou a cabeça, um movimento lento e calculado que me fez arrepiar. - Não minta para mim, garota. - ele disse, o tom agora sem qualquer traço de cortesia. - Eu sou um homem de negócios urgentes. Se você me atrasar, meu patrão ficará muito irritado. E você não quer ter que lidar com a irritação dele. É um problema de família. Se você cooperar agora, eu posso garantir que sua situação não piore. Entendeu? A menção à "irritação dele" me fez lembrar do quão perigoso poderia ser o mundo que Salomé frequentava. E agora, eu estava no meio. Eu olhei para Luigi, dormindo profundamente. Se eu dissesse a verdade, o garoto seria levado por este homem. Se eu mentisse, eu e minha mãe poderíamos estar em perigo. O desespero de salvar minha mãe falou mais alto. Respirei fundo, abrindo a porta um pouco mais para mostrar o bebê em meus braços. - Ele está aqui. - Eu sussurrei. - Eu o tirei de lá. Eu... eu não sabia o que fazer. O olhar de Enzo caiu sobre Luigi. A expressão dele suavizou, mas apenas por um instante. - Bom. Pelo menos você tem a cabeça no lugar, Scarlett Johnson. Agora me diga a verdade toda, e não omita nada. Eu contei tudo. A gravidez inesperada de Salomé. O desespero dela por não saber quem era o pai. O nascimento de Luigi. O choro incessante daquela noite. A chave reserva. A porta está aberta. E o corpo. - Ela se foi... Overdose. O corpo ainda está no apartamento dela. Eu não chamei a polícia porque... eu não podia deixar o menino ir para o serviço social. - As lágrimas que eu havia segurado voltaram, mas agora eram lágrimas de alívio por ter despejado o fardo. Enzo ouviu tudo, inexpressivo. Ele tirou o telefone do bolso e fez uma ligação curta, rápida e cheia de comandos em um italiano fluente. - Chegou a hora de Milão limpar a bagunça de Nova York. Quero uma equipe aqui em dez minutos. Sem polícia, sem perguntas. Quero um apartamento limpo e lacrado. O corpo deve ser cremado discretamente. Rápido. - ele ordenou. Ele desligou. Ele me olhou novamente, mas agora com um novo entendimento. - O pai dele... é meu patrão. - ele disse, a voz baixa, quase solene. - O Capo Mancini. E este garoto... este garoto é o segredo mais perigoso da nossa família. Enzo deu um passo para dentro, entrando no meu minúsculo e miserável apartamento. Ele não estava avaliando a pobreza, mas o risco. Seu olhar cruzou o meu e pousou sobre a cama no canto. Minha mãe, Helena, tossiu. O rosto de Enzo se contorceu em algo que não era repulsa, mas reconhecimento da tragédia. Ele viu os tubos, as máquinas portáteis, a palidez da minha mãe. Ele viu as provas da minha luta, o motivo real por trás dos meus olhos de quarenta anos. Ele viu a doença que era a minha prisão. - Sua mãe. - ele declarou, sem questionar. Não era uma pergunta, era uma constatação. - Doença renal terminal. Precisa de um transplante. - Eu respondi, com a garganta apertada. Ele assentiu. E foi ali, naquele apartamento, cheirando a álcool e desespero, que o acordo silencioso foi feito. - Você fez a coisa certa em salvar essa criança, Scarlett Johnson. O Capo precisa de uma babá para o filho dele, alguém que ele possa controlar. Alguém que tenha um motivo para manter o bico fechado, para ter mais medo de perder o que tem de encarar a nossa família. Ele me encarou, e eu soube que este era o meu emprego. A minha salvação e minha prisão. - Você vai para Milão. Você vai ser a babá de Luigi, o herdeiro secreto dos Mancini. E o Capo vai pagar o preço que for pelo seu silêncio, incluindo o melhor tratamento para a sua mãe. Mas se você falar uma palavra fora do lugar, ou se alguém descobrir esse menino, você não perde apenas o dinheiro. Você perderá tudo. E Milão é muito mais fria que Nova York. Eu assenti. O risco era alto, mas a recompensa era a vida da minha mãe. Eu já não tinha nada a perder, apenas tudo a ganhar. Eu não neguei. Eu não podia. Como negar algo que não tinha como ser negado? Eu já tinha dado o meu "sim" no momento em que peguei o bebê. Eu já tinha cruzado a linha da moralidade e da segurança quando tranquei a porta do apartamento ao lado e decidi proteger um bebê órfão em vez de chamar a polícia. A verdade é que a proposta de Enzo não era uma escolha, era uma inevitabilidade. Ele não precisava me convencer do perigo. O perigo real não estava em Milão; o perigo estava aqui, na iminência de perder a única pessoa que eu amava, assistindo-a se esvair por falta de um transplante e de dinheiro. Eu não tinha mais nada a perder. Uma hora depois, eu estava sentada no assento de couro luxuoso de um jato particular, apertando Luigi contra meu peito. Os mafiosos em ternos caros pareciam totalmente deslocados com um bebê a bordo. O choro do bebê ecoava na cabine, estridente e incessante. O desconforto dele era meu. Ele estava assustado com o barulho do avião, com a nova sensação de movimento, e mais ainda, com a energia tensa e inexperiente dos homens que o cercavam. Um dos capangas tentou segurar, desajeitadamente, balançando como um saco de batatas. Luigi soltou um grito desesperado. Eu o peguei de volta, ignorando o olhar do capanga. - Vocês não sabem o que estão fazendo. - Eu disse, balançando Luigi suavemente, cantando uma velha canção de ninar espanhola que minha mãe me ensinara. - Ele não é um pacote. É um bebê. Precisa de calma e contato. Gradualmente, o choro de Luigi diminuiu. Ele se aninhou em meu pescoço, com o cheiro de lavanda do meu suéter o confortando. Eu fechei os olhos, sentindo um medo profundo do futuro. Eu havia me tornado a babá de um herdeiro. Meu novo lar seria o covil de um homem que eu nunca tinha visto, mas que já me inspirava em um grande terror. Aterrissamos em uma pista privada e fomos levados rapidamente para uma mansão que parecia mais um palácio fortaleza, escondida atrás de muros altos e cercas de ferro. A segurança era sufocante. Entramos em um escritório amplo e imponente. A decoração era escura, luxuosa, e exalava poder. E então, eu o vi. Ele estava de pé ao lado de uma mesa de mogno maciça, com as mãos apoiadas nela, olhando para nós com uma intensidade fria. - Rocco Mancini. - Disse sem eu ter perguntado nada. Minha primeira impressão foi de que ele era a encarnação do perigo. Ele era mais alto do que parecia, largo de ombros e musculoso sob o terno impecável. Ele não era bonito no sentido clássico, mas era hipnotizante. Seus traços eram angulares e duros, seus cabelos escuros como a noite, e seus olhos... Seus olhos eram o que mais me atingia. Eram de um azul no tom do mar revolto, e estavam cheios de uma inteligência brutal e de uma raiva controlada. Ele era o rei no seu castelo. O ar em torno dele era mais frio, mais denso. Seus olhos encontraram os meus, e eu senti um arrepio percorrer minha espinha. Era uma atração proibida, imediata e avassaladora, misturada com o medo mais puro. - Então você é a babá. - Ele disse, a voz grave e rouca. Era a voz de um homem acostumado a dar ordens e ser obedecido. Eu me recompus, apertando Luigi contra mim. - Eu sou Scarlett. E sim, sou eu quem cuida dele. Ele fez um gesto vago em direção a Matteo. O tal Enzo ficou em Nova York. - Matteo me informou dos detalhes. Você será paga pelo seu tempo. Agora, ouça com atenção. Ele deu um passo para a frente, e a intensidade em seus olhos aumentou, transformando o frio em gelo. - O que quer que você tenha ouvido de Salomé, o que quer que você saiba sobre esta criança e sua origem, morre com você. Se uma única palavra, um único detalhe sobre a existência dele, sobre mim, ou sobre o que você viu for revelado, você morrerá. E sua mãe pagará o preço por sua indiscrição. Você entendeu, Scarlett? O terror me deixou sem fala, e eu apenas acenei com a cabeça. - Bom. - Ele se virou para Matteo. - Leve-a. Matteo moveu-se para me guiar para a porta. - Vamos, Scarlett. - Não vai conhecer ele? - A pergunta pulou da minha boca. Rocco observou a cena diante dele, e eu estava ali com seu filho no colo. A raiva é misturada com uma irritação estranha. Ele olhou para o bebê coberto e depois para mim, que assistia à cena com uma mistura de sentimentos conflitantes. Ele fez um gesto abrupto para Matteo, um comando silencioso. - Chega. - ele rosnou, a voz como cascalho. - Leve os dois daqui. Matteo obedeceu, tentou me puxar, mas eu vi que não podia insistir. Aquele homem não amava o filho, aliás, ele não queria conhecer o seu próprio sangue. Ele olhou para mim, sua expressão indecifrável. A fúria ainda estava lá, mas havia algo mais, uma aceitação forçada. - Vá antes que eu me arrependa de não ter matado vocês dois. Ele me encarou uma última vez, e eu soube que não era uma ameaça vazia. Eu era uma prisioneira, mas pelo menos eu estava com o bebê.






