Capítulo 3 — Vontade do Don

POV Sophia Sinclair

O quarto era grande demais. Frio demais. Tudo cheirava a Matthias. Controle, ordem, prisão disfarçada de luxo. Sentei no chão, abraçando os joelhos, tentando entender em que momento perdi a guerra contra mim mesma.

A venda ainda ardia na memória. As vozes, os toques, a promessa de violência. Eu podia ter morrido. E mesmo assim… eu ainda sentia ódio dele. Ódio por me sequestrar. Ódio por me salvar. Ódio por existir.

Passei as mãos no rosto. Olhei no espelho. Olhos vermelhos. Pele pálida. Mas viva. Ainda Sophia. Ainda Sinclair. Ainda respirando, mesmo quando o mundo queria me engolir.

Uma batida na porta.

— Senhorita Sinclair. O jantar será servido em quinze minutos.

— E se eu não estiver com fome?

— Não foi uma sugestão. É uma ordem. Do senhor Kane.

Revirei os olhos.

— Diz pra ele que eu prefiro morrer de fome.

— Recomendo que não teste os limites dele hoje.

Ri baixo. Um riso amargo. "Se isso era tolerância, o que viria depois?", pensei. Levantei. Lavei o rosto. Peguei o vestido preto que encontrei no closet. Justo, elegante, provocante. Escolhido a dedo. Claro que ele tinha feito isso. Ele controlava até minha estética.

Antes de sair, encostei a testa na porta. "Você é uma Sinclair. Ninguém quebra você sem luta."

Abri. Corredor silencioso, mármore reluzente, seguranças imóveis. Passei por um deles. Ele sussurrou:

— Melhor não deixá-lo esperando.

Continuei. Não precisava responder. Eu não ia jantar. Eu ia encarar o diabo de olhos cinzentos e alma feita de aço.

Mesa de ébano. Castiçais. Vinho tinto. Matthias na cabeceira. Eu à direita.

— Regras — ele disse, seco.

— Claro. Porque viver aqui já não parece uma prisão o suficiente.

— Primeira: sem visitas.

— Segunda: celular rastreado.

— Terceira: não minta.

— Quarta: se sair, avisa. Se desaparecer, eu te busco.

— Controlador ou viciado em mim? — rebati, bebendo o vinho.

— Cuidado com o que deseja, Sophia. — Ele cravou o garfo no filé.

Engoli seco. Um arrepio subiu pela espinha.

— Me fala uma coisa… você coleciona prisioneiras ou eu sou um item único na sua coleção? — provoquei, mexendo o vinho no copo.

Ele ergueu os olhos, gelados. — Você não é uma prisioneira, Sophia.

— Ah, não? — soltei uma risada curta. — Então o sequestro foi um jogo educacional? Um workshop de trauma ao vivo?

Ele largou os talheres. Passou a mão na taça com calma, como se estivesse decidindo se me quebrava agora ou depois da sobremesa.

— Eu não devia ter que explicar isso pra você — disse baixo. — Mas se você me forçar, posso mostrar exatamente o que é uma prisão.

Inclinei o corpo pra frente, sorrindo.

— Sabe o que é mais divertido? Ver você todo cheio de pose, todo Don Perigoso, mas incapaz de sequer encostar em mim. É quase... fofo.

Os músculos do maxilar dele saltaram. O ar ficou pesado.

— Seu pai me pediu uma única coisa. E eu ainda cumpro.

— Uma única coisa… — repeti, saboreando cada sílaba como veneno. — Aposto que foi: “não machuque minha menininha.” Mas você já falhou nisso, Don. E em grande estilo.

Ele apoiou os cotovelos na mesa, inclinou o rosto, os olhos queimando.

— Quer testar o quanto eu posso falhar, Sophia?

— Talvez eu só queira ver se existe homem de verdade aí embaixo desse terno de mil dólares.

O silêncio explodiu. O relógio na parede parecia gritar no fundo.

Ele pegou a taça, virou o vinho em um gole só. Lento. Controlado. Como se lutasse contra cada instinto.

— Você brinca com fogo achando que é imune, mas esquece… — Ele se levantou, andando até mim, cada passo pesado como um trovão. — Eu sou o fogo.

Eu sorri. Um sorriso doente. Um sorriso de alguém que já não tinha mais nada a perder.

— Queima, então.

Ele segurou o encosto da minha cadeira, aproximou o rosto do meu, tão perto que eu podia sentir a respiração quente.

— Você não faz ideia de quantas linhas já cruzou.

— E você não faz ideia do quanto eu posso suportar.

Ele se afastou. Devagar. Como se cada centímetro fosse uma tortura.

— Vá para o quarto, Sophia. Agora.

— Vai me obrigar? — desafiei.

— Se eu encostar em você hoje… — A voz dele falhou, rasgou. — Não vai sobrar promessa nenhuma para contar amanhã.

Levantei devagar. Passei por ele, o ombro roçando de propósito.

— Boa noite, Don. Sonha comigo.

Ele não respondeu. Não precisava.

Porque eu sabia.

Ele já sonhava.

***

Deitada na cama, vi o celular vibrar.

"Matthias Kane — Localização: 11 metros."

Ele também me deixava ver onde estava. Ele queria que eu soubesse. Queria que eu soubesse o quanto ele estava perto. Virei de lado, o lençol subindo até o pescoço. A noite queimava. Eu não o odiava o suficiente.

Levantei. Pé descalço no chão frio. Camisola de seda preta. Curta demais pra ser inocente. Longa demais pra ser vulgar. Caminhei. O corredor parecia mais escuro. A porta dele, entreaberta. Empurrei. Silêncio.

— Você sempre invade espaços que não são seus?

A voz dele veio baixa, letal.

Então, o vi. Molhado. Cabelo desgrenhado. Toalha baixa demais. Uma tatuagem preta no ombro. Eu congelei. Ele não. Andou até mim.

— Eu ia pra cozinha — murmurei, patética.

O olhar dele caiu pro meu corpo.

— Vestida assim?

— Você anda quase nu. Qual a diferença?

Ele se aproximou.

— A diferença, Sophia, é que você não sabe o que eu faço quando estou assim.

— Então me mostra — soltei.

Ele encostou a mão na parede, ao meu lado.

— Seu pai confiou você a mim. Ele fez um único pedido.

— Você já quebrou regras antes.

Ele sorriu. Frio.

— E você está desesperada pra ser a exceção, não é?

— Talvez eu queira ver até onde você aguenta antes de quebrar a promessa.

Ele encostou a testa na minha.

— Você não faz ideia do que tá pedindo.

— E você não faz ideia do que eu posso aguentar.

Silêncio.

Ele se afastou, a passos lentos.

— Sai daqui, Sophia. Antes que eu cometa um erro… do qual nenhum de nós vai sair inteiro.

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