Quando Buck voltou para o quarto ficou paralisado, segurou o batente da porta como se aquele pedaço de madeira fosse capaz de fazer o mundo parar de rodar em torno dele. As lágrimas caíram como uma cachoeira salgada. Nada de extraordinário para nenhuma outra pessoa, mas para ele aquela visão era a mais bonita do mundo. Isaac olhava para Tank que ainda estava distraído com os carrinhos e fazia um barulho com a boca. — bruuum...bruuumSuave, baixinho, a saliva escorria pela lateral dos lábios do garotinho, mas o olhar estava feliz, tão feliz quanto Buck se lembrava que era quando o filho ainda conseguia brincar. Não ousou nem mesmo se mover, queria que Isaac tivesse aquele momento, ainda que fosse só um lampejo de lucidez, ainda estava lá. Tank não percebeu o bem que tinha feito ao menino, apenas continuou ali, conversando como se pudesse voltar a infância e viver as alegrias bobas que não tinha experimentado. — É incrível né? Mas eu queria mesmo uma moto, um dia podemos andar de
Tank explicou com detalhes o que significava aquela sigla que havia tirado a paz de Dállia durante boa parte do dia. E a forma como ele foi ligando uma informação a outra fez com que tudo ficasse claro como água para ela.O rapaz pegou um prato e colocou na frente da menina. Nele colocou três salgados. — Coxinha, quibe e bolinha de queijo. Eu sei o que precisa, mas para você entender, primeiro tem que comer esses três. A menina quase colocou todos na boca, mas ele explicou antes. — Calma, preciso que me diga exatamente que sabor tem, qual é mais gostoso, quantos comeria de cada um. Dállia obedeceu e respondeu as perguntas do namorado. — O queijo está perfeito, estica quando a gente morde e a massa parece dissolver na boca, eu comeria uns dez desses. O kibe está bom, mas parece seco e o que tem dentro não é carne de verdade, já a coxinha está seca e é difícil de engolir, eu não comeria nem se estivesse com fome. Posso pegar outro bolinho de queijo? — Pode, minha flor. Tank pegou
Dállia dormiu tranquila e acordou com os beijos de Tank em seu rosto. Espreguiçou esticando cada parte do corpo e o rapaz percebeu que também adorava vê-la acordar. Estava perdido! Como uma mulher podia fazer ele ficar daquele jeito apenas se espreguiçando? — Vamos tomar café, minha flor. Que horas precisa estar lá? Dállia continuou com os olhos fechados, por muito tempo dormir e acordar eram momentos de medo e ansiedade. Fechava os olhos achando que Russo a mataria durante o sono e os abria lamentando que não tivesse acontecido. Mas agora, com Tank, dormir era tranquilo e reconfortante e ela acordava feliz e descansada. — Às 7hNa verdade ela deveria chegar as 8h, mas queria chegar mais cedo, precisava se ambientar e entender o que esperavam dela. Tank olhou para o celular, tinham pouco tempo então desistiu dos planos de fazerem amor antes de deixar a namorada no escritório. — Então vai tomar banho e se arrumar. Vou pedir o café e para deixarem o carro pronto para gente sair.
Tank ficou olhando para aquele prédio enorme, a fachada de vidro fumê, os seguranças que mais pareciam estátuas usando ternos pretos impecáveis. Precisou prestar atenção para saber se eles piscavam ou se eram apenas mais um enfeite da fachada. E então a sua flor passou por eles e entrou naquele lugar, sentiu vontade de seguir Dállia, de impedir que alguém a ferisse. Chegou a descer do carro. E se ela tivesse dificuldade com o e-mail? Mas antes de atravessar a rua o pensamento veio devastador. - Nem você sabe seu imbecilParou no meio da rua, a buzina de uma moto o tirou do transe. Mas se alguém gritasse com ela? Dállia nunca reagiria, ela não reagia! Voltou para o carro e ficou ali, depois de duas horas o telefone tocou e ele atendeu ansioso, apressado, achou que fosse a namorada, que ela talvez tivesse desistido, ficou feliz em ainda estar ali, Dállia não precisaria esperar.— Alô— Está chegando? Tenho prova hoje, Tank! — Foquinha! Putz, chego já. Desculpa, Amara. Olhou par
Dállia lavou o rosto, tentou arrumar a postura e saiu do banheiro, não podia ficar ali para sempre e não estava disposta a desistir. Voltou para a mesa que ficava atrás de uma divisória de madeira, só ela ficava ali. Em um escritório totalmente aberto, onde as únicas salas fechadas eram as dos líderes, ela havia ficado isolada. Sobre a mesa encontrou uma caixa de lápis de cor e alguns desenhos para colorir. Estranhou, mas organizou tudo em uma gaveta e se sentou esperando as primeiras ordens do dia. Uma senhora de uns cinquenta anos entrou empurrando um carrinho de limpeza. — Oh minha filha, o que está fazendo aqui? — Eu comecei hoje, é meu primeiro dia. Me chamo Dállia e a senhora? — Edilene, mas todo mundo aqui me chama de Êdi. Acho que está no lugar errado, querida. Aqui é o cantinho que guardamos os lixos e os produtos para não ficar feio.Dállia olhou em volta, o espaço não tinha mais do que um metro quadrado, mas puxou um pouco o banquinho de madeira que tinham dado para q
Um dia difícil, uma mistura estranha de felicidade e angústia. Amou tudo o que aprendeu e achava que se Mirna continuasse ensinando tudo com aquela paciência, em pouco tempo já não precisaria de ajudar, mas havia Julian. Ele estava lá, como uma assombração em meio ao paraíso. Respirou fundo e quando todos foram embora ela continuou fazendo e refazendo cada coisa que havia aprendido, fez anotações, olhou com cuidado o sistema, verificou os e-mail que tinha recebido durante o dia, leu o manual de governança da empresa e deu uma risada amarga quando uma parte em especial chamou sua atenção. A Companhia adota uma política de tolerância zero em relação ao assédio sexual, garantindo que nenhuma mulher, ou qualquer colaborador(a) será submetida a situações de constrangimento, intimidação ou violência de natureza sexual no ambiente de trabalho. O respeito, a dignidade e a equidade são pilares inegociáveis da nossa cultura corporativa.Grifou aquela parte e deixou o material sobre a própria
Poderia ter sido só um banho, e se fosse falar a verdade, Dállia nem queria, preferia apenas trocar de roupas e dormir, mas tinha prometido que sempre teria disposição para estar com Tank. E como se o pensamento pudesse chamar por alguém, ele apareceu na porta do banheiro. — Vem, minha flor. Dállia desceu os olhos pelo corpo do namorado, Tank estava usando apenas uma box branca que marcava a masculinidade dele de uma forma tentadora. Respirou mais fundo antes de o seguir para dentro do banheiro. Tank entrou primeiro, sem tirar a cueca, segurou a mão da menina e a fez se sentar. — Não vai tirar? O rapaz deu um sorrisinho sacana antes de responder. — Hoje nãoEla quase ficou magoada, mas só até Tank se sentar na borda da banheira e puxar um dos pés dela. Ele massageou com cuidado, devagar, de um jeito que Dállia tinha certeza de que só ele poderia fazer. Depois passou para o outro, refez o processo e depois massageou as pernas da menina. E quando Tank terminou, ela se virou na
Dállia ficou encantada com tanto cuidado, não sabia o que era isso. A casa em que morava com Russo era muito maior, mas não se comparava em beleza com aquele pequeno refúgio. — Eu não sabia que alguém podia gostar de mim, assim.— E eu não sabia que podia amar tanto quanto eu te amo. Mas aí você apareceu. Pequena, teimosa e minha. Dállia, você é tudo o que eu quero para vida. Ela riu entre as lágrimas, fungou, tentou limpar o rosto com as mãos, mas Tank passou o polegar no rosto da menina como se quisesse apagar qualquer tristeza que ainda restasse naquele coração. Queria ela para ele, só para ele e encheria aquele rosto com sorrisos. — Vem ver o quarto Ele a puxou pela mão com o jeito de quem mesmo sem saber o que fazer, faz tudo o que pode. E Dállia encontrou um guarda-roupas imenso que cobria duas das paredes do quarto, todo feito em madeira rústica, mas lixado e envernizado com cuidado. Dentro os vestidos que havia ganhado de Tank enquanto ainda se escondiam, além das roupas