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Capítulo Quatro- A onde o silêncio reconhece o destino

O castelo parecia um pouco mais vivo à noite.

Não pelo som que emitia, mas pela ausência dele. Os corredores escuros sussurravam segredos, e cada vela acesa parecia guardar lembranças de coisas que ninguém mais ousava dizer em voz alta.

Caminhava sem rumo, guiada pelo incômodo que me fazia querer sair do quarto. A pedra fria sob meus pés e o tecido leve do manto sobre os ombros. Eu precisava respirar.

Foi então que o vi.

Sozinho, parado diante de uma antiga escultura de bronze — um cavalo alado com uma asa quebrada. Os olhos fixos, como se buscasse respostas no metal mudo.

— Não sabia que príncipes apreciavam estátuas tristes — comentei antes de cogitar em pensar.

Ele não se virou de imediato. Só depois de um longo silêncio, sua voz veio, baixa e contida.

— Às vezes, é nelas que vemos o que escondemos de nós mesmos.

Me aproximei um pouco. Não por coragem — mas por impulso.

— E o que você vê aí?

— Algo que tentou voar. E falhou.— Ele responde.

— Talvez só esteja esperando a asa crescer de novo.

Ele finalmente se virou. Os olhos escuros encontraram os meus com precisão desconfortável. Havia firmeza ali... e algo mais. Algo ferido, oculto sob camadas do seu próprio controle.

— Você acredita nisso? Em reconstrução?

— Eu vivo com uma mulher que vê o futuro e ainda assim planta flores como se tivesse todo o tempo do mundo. Então... sim. Eu acredito.

Um traço de sorriso surgiu em seu rosto, mas não tocou os olhos.

— Você fala demais para alguém que foi trazida como observadora.

— E você guarda demais para alguém que está cercado de perguntas.— Saiu tao fácil dos meus lábios que só reparei depois.

O silêncio se alongou.

— Por que veio até aqui? — ele perguntou.

— A verdade? Eu precisava fugir do peso do meu próprio nome. — dei de ombros — E você?

— Eu nunca fugi. Só aprendi a fingir que o peso não existe.

— Isso funciona?

— Às vezes. Quando ninguém está olhando.

Nos encaramos. Não havia mais nada entre nós além da escuridão, do mármore frio e de tudo o que não estava sendo dito.

— Sua mãe de criação acredita que nada é por acaso — ele disse, num tom quase irônico. — Acha que nossa conversa estava escrita em algum chá?

— Talvez — sorri de leve — Ou talvez o destino tenha um senso de humor.

Ele deu um passo à frente. A proximidade trouxe uma tensão densa, como se o ar tivesse se contraído.

— Não brinque com o destino, Elisa.

— Não estou brincando.

— Está tentando entender quem sou?

— Não... — respirei fundo, com firmeza — Só tentando lembrar quem eu sou, mesmo diante de alguém como você.

Kael pareceu vacilar por um segundo. Foi quase imperceptível, mas eu vi.

Ele então desviou o olhar, voltando à escultura.

— Boa noite, Elisa.

— Boa noite, príncipe.

Quando me afastei, o sussurro veio pela primeira vez. Baixo. Quase imperceptível. Como se não viesse de fora... mas de dentro.

 "Ele também sangra. Só não aprendeu a mostrar."

De alguma forma, tudo parece ser confuso.

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