Quando entrei no saguão de mármore do Grupo Romano naquela manhã, não esperava vê-lo com ela. Giovanni Romano — meu marido, o pai do meu filho — estava ao lado do elevador de vidro, afastando delicadamente uma mecha de cabelo do rosto de Elena Duval. Ela era toda feita de risadas suaves e perfume delicado, o tipo de mulher que parece ter saído de um anúncio de champanhe e não pertencer ao mesmo mundo que o meu. E o modo como ele a olhava — Como se fosse o ar que ele não respirava há anos — queimou direto dentro de mim.
Alguém ao meu lado sussurrou:
— Acho que o chefe finalmente encontrou sua paixão.
Sorri de volta como se não doesse… Mas, por dentro, senti algo se partir. Sete anos atrás, Giovanni e Elena eram o casal dourado, o príncipe da Máfia e a filha de um diplomata que, supostamente, o deixou para salvar a própria família. Diziam que o pai dela foi ameaçado, que ela fugiu para a França em busca de segurança. Mas pessoas que fogem pela vida não mandam cartões-postais de Paris… Ele chamou de traição, ela chamou de sacrifício. Talvez ambos estivessem certos. Ele nunca se recuperou. E eu fui tola o bastante para achar que conseguiria preencher o espaço que ela deixou. Numa noite de bebida e solidão, tornei-me a mulher que ele escondia do mundo. Sua assistente. Sua esposa secreta. A mãe do filho que ele nunca assumiu. Naquela manhã, imprimi dois documentos: meus papéis de divórcio e minha carta de demissão.
Quando minha colega se inclinou sobre a mesa, franziu a testa.
— Você vai mesmo pedir demissão, Jo?
Forcei um pequeno sorriso, dizendo:
— Sim. O pai do meu filho trabalha fora do país. Vou levar meu menino pra lá. Já está na hora de ficarmos juntos como uma família.
Ela sorriu de leve:
— Você tem feito tudo sozinha. Deve ser cansativo.
Assenti, fingindo que as palavras dela não doíam. Porque a verdade era mais cruel — Eu não era uma mãe solteira. Eu era algo pior: invisível. Assim que entreguei minha demissão, o elevador abriu novamente. Giovanni entrou com Elena, a mão pousada de leve na base das costas dela, como se aquele fosse o lugar a que pertencia. Todas as mulheres do escritório pararam para olhar. Tentei desviar o olhar, quase consegui, até ele passar bem ao meu lado.
— Sr. Romano... — Murmurei.
Ele se virou bruscamente. Olhar frio. Um aviso.
— Senhorita Jo, se não for sobre trabalho, não me faça perder tempo.
Minha garganta se fechou.
— Claro, senhor. — Sussurrei.
Ele assentiu uma única vez, já voltando-se para Elena, com a expressão novamente suave.
O mesmo homem, duas faces. Uma para ela, outra para mim. Então meu celular vibrou. A voz de Leo ecoou pelo relógio infantil:
— Mamãe, a escola vai soltar mais cedo! O tio tá me levando pro trabalho dele!
Mal tive tempo de responder antes de vê-lo — meu menininho — parado perto do elevador, com a mochila nas costas, olhando para a mesma cena que eu tinha acabado de presenciar. Giovanni ria baixo de algo que Elena dissera, a mão ainda repousada protetora atrás dela. E Leo... apenas ficou ali, com a confusão nublando seus olhos brilhantes. Quando Giovanni finalmente o notou, seu corpo enrijeceu. Por um instante, achei que ele fosse dizer alguma coisa. Mas então apenas ajustou os punhos da camisa, e passou direto pelo próprio filho, como se ele não existisse.
Corri até Leo e o puxei para meus braços antes que as lágrimas caíssem.
— Mamãe. — Ele sussurrou. — É aquela moça que o tio gosta?
Não consegui falar. Apenas assenti. Ele não chorou. Não de imediato. Apenas se sentou à minha mesa, abriu o caderno e começou a escrever as palavras do ditado. Mas logo o papel se manchou com as lágrimas. Enlacei meus braços ao redor dele e o apertei com força. Porque aquele pequeno menino trêmulo era todo o meu mundo. E, lá no fundo, eu sabia: aquela foi a primeira chance. E Giovanni nem sequer percebeu que a havia perdido.