Ele estava me esperando nos portões da escola quando saímos. Giovanni Romano — impecável como sempre, uma mão no bolso do casaco e a outra segurando um algodão-doce. O pôr do sol refletia em seu cabelo, suavizando os traços afiados do rosto. Por um instante, ele quase pareceu o homem que eu costumava amar. — Você se atrasou. — Disse ele, com a voz baixa, quase gentil. — Vamos. Vamos pra casa.
Casa.
Um dia, essa palavra significou tudo pra mim.
Agora, soava apenas como uma lembrança que não nos pertencia mais. Os olhos de Leo brilharam quando Giovanni lhe entregou o algodão-doce. Ele não sorriu a noite toda. Por um segundo, deixei-me acreditar que as coisas podiam voltar a ser como antes.
Giovanni estragou tudo com a frase seguinte:
— O filho da Elena acabou de se transferir pra cá… — Disse, casualmente, observando Leo girar o doce. Ele não teve chance de participar da eleição de líder de turma. Talvez… deixe ele ficar com seu lugar. Vai ajudá-lo a se enturmar.
Leo congelou, os dedinhos apertando o cabo de papel.
O mundo pareceu prender a respiração.
— Tá bom, tio Gio. — Respondeu baixinho. A voz falhou no meio.
Então ele deu uma mordida no algodão — rápida demais, forçada demais — e sorriu por entre a dor. Os olhos de Giovanni suavizaram, como se aquela troca tivesse algum significado bom. Ele ergueu a mão pra afagar a cabeça de Leo, mas antes que o toque acontecesse, o celular tocou.
— Alô? — Atendeu, já se virando.
A voz de Elena soou fraca pelo viva-voz:
— Ele não está se sentindo bem. Pode vir?
O rosto de Giovanni mudou. Sem hesitar, ele abriu a porta do carro.
— Se cuidem. — Disse baixo, antes de fechá-la.
A voz de Leo subiu atrás dele.
— Pai!
Ele parou.
Dessa vez, não corrigiu.
Apenas olhou de volta com o olhar indecifrável e falou:
— Se cuidem.
Depois, partiu noite adentro.
Foi a última vez que meu filho o chamou de pai. Naquela noite, empacotamos nossa vida em duas malas. Leo dobrou seus desenhos, eu juntei os documentos que vinha escondendo — papéis de transferência, passagens, o endereço de um pequeno apartamento em outro país. Tudo. Quando ele finalmente dormiu, fiquei no escuro, olhando pra única conversa no meu celular. Digitei devagar: "Desejo que seja feliz". Então apertei enviar, desliguei o telefone e o guardei na bolsa.
A mensagem foi enviada. A tela se apagou.
E, em algum lugar dentro de mim, algo finalmente parou de esperar.