Capítulo 4
Eu o vi no instante em que entramos na sala de aula. Giovanni Romano — meu marido, o pai do meu filho — sentado perto da janela, como se pertencesse àquele lugar. Ao lado dele, um garotinho que eu não reconhecia. Por um segundo, fiquei ofegante. A turma de Leo havia sido aberta há apenas meio ano. Giovanni nem sabia em que série ele estava. Antes que eu pudesse impedi-lo, o rosto de Leo se iluminou. Ele correu, a pequena mochila balançando a cada passo.

— Pai! — Ele dizia.

Os olhos de Giovanni se voltaram para ele. Frios. Cautelosos.

— O que foi que você acabou de me chamar?

A cor sumiu do rosto de Leo. Ele hesitou, depois sussurrou a palavra que me partia um pouco mais todas as vezes.

— Tio. Desculpa, tio Gio. Acho que você está sentado no meu lugar.

Giovanni desviou o olhar.

— Não. É aqui que eu devo estar.

Antes que Leo pudesse perguntar o que ele queria dizer, outra voz cortou o burburinho.

— Sai! Esse é o meu pai.

Um garotinho passou entre eles, agarrando a mão de Giovanni como se já tivesse feito isso mil vezes. Meu instinto falou mais alto. Dei um passo à frente, protegendo Leo atrás de mim. Giovanni também se levantou, mas, quando Elena Duval apareceu na porta com dois copos nas mãos, ele congelou. Puxou a mão de volta.

— Ela tem razão. — Disse, com a voz tensa. — O menino não quis fazer mal.

Leo o olhou, confusão nublando seus olhos castanhos. O mesmo olhar que ele tinha sempre que tentava entender por que o amor funcionava de forma diferente pra ele. Elena sorriu ao me ver.

— Jo? Você também está aqui? — O tom era leve, educado. — Eu não sabia que seu filho estudava nesta escola.

Então, com um leve inclinar de cabeça:

— Onde está o pai dele? Viajando de novo?

Algo dentro do meu peito se retorceu.

Giovanni não olhou pra mim.

— Filho de amigos. — Murmurou, rápido demais, baixo demais.

Certo. A "amiga" da foto com a legenda "futuro melhor pai". Algo dentro de mim ficou completamente imóvel. Leo deve ter sentido. Deu um passo à frente com a voz trêmula.

— Meu pai não está aqui. Ele está muito ocupado. Eu não quero incomodar.

As palavras doeram mais do que qualquer tapa.

A expressão de Giovanni vacilou — choque, talvez culpa — mas sumiu antes que eu pudesse entender. O filho de Elena ainda segurava firme na manga dele. Leo sorriu mesmo assim. O mesmo sorriso corajoso de sempre, aquele que ele usava pra esconder a dor.

— Tio Gio, eu vou com a mamãe agora.

Eu não consegui falar.

Minha garganta estava crua de tanto conter tudo o que eu queria dizer e nunca podia. Quando me virei pra ir embora, Giovanni estendeu a mão num reflexo, como se o corpo se movesse antes da mente. Seus dedos roçaram meu pulso. Por um instante, ficamos imóveis. Então eu sorri um sorriso pequeno, cansado.

— Deixe-o ir, senhor Romano. — Sussurrei. — Ele não é sua responsabilidade.

E saí, segurando a mão de Leo, sem olhar pra trás. Essa foi a terceira chance. A última.

Eu nem me virei. Ele já tinha nos perdido muito antes daquela noite.
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