Capítulo 6 – Flores Indesejas

Isadora mal havia pisado no elevador e já sabia que o dia não seria dos mais tranquilos. A cabeça ainda fervia com a lembrança da noite anterior — os olhares de Lorenzo, o clima estranho... e, claro, o tal Gustavo. Mesmo assim, chegou cedo, decidida a manter o profissionalismo intacto.

Mas o universo, como sempre, tinha outros planos.

Logo após sentar-se em sua mesa, o ramal tocou.

— Srta. Mendes? — a voz da recepcionista soou hesitante. — Chegou uma entrega pra você. Um buquê… bem grande.

— Entrega? Pra mim?

Desceu desconfiada. Ao ver o arranjo, quase tropeçou de susto: rosas brancas impecáveis, em um buquê tão vistoso que mal cabia nos braços. Havia um cartão elegante, com uma caligrafia firme:

“Para a mulher que roubou minha atenção ontem. Que tal um jantar, sem interferências? — G.D.”

Ela fechou o cartão com um estalo. O calor subiu pelas bochechas como se tivesse levado um tapa. Subiu para o andar executivo com o buquê nos braços, tentando parecer inabalável, mas por dentro fervia de desconforto.

Mal havia passado pela porta, Lorenzo a viu. Estava parado ao lado da mesa de sua secretária quando seus olhos se fixaram no arranjo exagerado.

Franziu o cenho.

Sem disfarçar, caminhou até a mesa de Isadora, que ainda ajeitava as flores ao lado do monitor, tentando decidir o que fazer.

— Srta. Mendes — disse ele, a voz baixa, firme. — Posso falar com você um instante?

Ela se virou, erguendo os olhos para ele. Estava tensa, mas manteve o tom calmo.

— Claro, senhor.

Ele indicou com um gesto discreto uma sala de reuniões vazia ao lado. Entraram. Isadora deixou o buquê do lado de fora, como quem se livra de uma culpa.

— Flores, é? — Lorenzo começou, cruzando os braços.

Ela assentiu.

— De Gustavo Diniz — respondeu, direta. — Chegou agora há pouco. Achei melhor que soubesse. Não me sinto confortável com esse tipo de abordagem, principalmente aqui.

Ele respirou fundo, desviando os olhos por um breve momento.

— Ele passou dos limites — murmurou, mais para si do que para ela.

Depois, a olhou de novo. Havia algo mais ali. Uma tensão que não vinha só das flores.

— Obrigado por me informar — disse, voltando ao tom profissional. — Gustavo é investidor, mas isso não lhe dá liberdade para agir de forma inadequada com nenhuma funcionária desta empresa. Tomarei as providências.

Isadora assentiu, aliviada com a firmeza dele.

— Agradeço. E, por favor, descarte isso. Ou... faça o que quiser com as flores.

Ela hesitou, depois deu um meio sorriso.

— A síndica do meu prédio faz aniversário hoje. Vai achar que fui generosa. O buquê vai ter alguma utilidade, pelo menos.

O canto da boca de Lorenzo se curvou de leve, quase imperceptível. Mas ela viu.

— Algo mais? — ele perguntou, recuando um passo.

— Não, senhor.

E saiu da sala com a cabeça erguida. Digna. Mais ou menos.

Horas depois, no horário de almoço, Isadora se sentou com Sofia no refeitório. Sofia, como sempre, era pura observação disfarçada de humor ácido.

— Tá achando que eu não vi aquele arranjo de flores te escoltando pelo corredor? Amiga, parecia que a primavera chegou em forma de escândalo.

— Ah, não começa, Sofia. Foi o Gustavo. Um presente totalmente fora de hora.

— Fora de hora e fora da casinha. E Lorenzo?

— Falei com ele. Foi... surpreendentemente sensato. Disse que vai resolver.

Sofia se inclinou sobre a mesa, olhos atentos.

— E você? Vai resolver o que sente quando aquele homem te olha como se soubesse todos os seus segredos?

Isadora arregalou os olhos.

— Não viaja, Sofia...

— Eu vi, Isa. Ele não olha assim por educação. E você... não desvia por timidez. Tem coisa aí.

Isadora desviou o olhar, fingindo interesse na sobremesa.

— A única coisa que tem aqui é trabalho. E eu preciso muito desse emprego.

Sofia soltou um suspiro dramático.

— Ai, amiga... espero que você aguente. Porque esse jogo aí entre vocês já começou faz tempo. Só falta alguém admitir.

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