O relógio da cobertura marcava 2h47 da madrugada. A cidade lá embaixo pulsava em luzes tênues e barulhos abafados, mas o apartamento estava mergulhado num silêncio pesado, quase cruel.
Lorenzo estava acordado. De novo.
Não por insônia comum, mas por tormento. Desde o dia em que Isadora saiu daquele jardim — olhos marejados, coração partido, alma ferida — ele não teve mais paz. A cena se repetia todas as noites como um filme mudo. Helena o beijando. Isadora olhando. O silêncio entre eles gritando mais alto que qualquer palavra dita.
Nada apaga a imagem dela saindo arrasada daquele jardim. O jeito como segurava a própria dor, tentando não desmoronar na frente de todos. Como Isadora iria lhe dar uma segunda chance? Ele foi cruel. Egoísta. Desumano. E merecia cada gota daquela dor que sentia.
Nos primeiros dias, acreditou que ela voltaria. Orgulhosa, sim, mas incapaz de se afastar por muito tempo. Depois de uma semana, o desespero tomou forma. Tentou contato. Ligou, mandou mensagens, até