Capítulo 2 - Marcas invisíveis

Alicia encostou a cabeça no vidro do táxi, os olhos fixos nas luzes que passavam rápidas pela cidade.

A avenida parecia silenciosa, mas dentro dela... um furacão dançava sem controle.

Victor D’Abruzzi.

Ela não sabia o nome dele, mas jamais esqueceria o gosto, o toque, o modo como ele a fez se abrir, se derreter, se perder — e, de alguma forma, se encontrar.

Nunca havia sido tocada daquele jeito.

Seu corpo ainda vibrava, mesmo sob o vestido alinhado. As coxas tremiam suavemente. Os lábios ardiam. O coração... esse não sabia se corria ou parava.

Assim que entrou em casa, trancou a porta, encostou-se à madeira fria e deixou o ar escapar com um suspiro profundo, quase um soluço.

Tirou os sapatos, a bolsa, e caminhou em silêncio até o banheiro.

Na frente do espelho, se encarou.

Quem era aquela mulher?

Como pôde se entregar a um desconhecido... assim? Como pôde deixar que alguém invadisse sua alma com tanta naturalidade, como se fosse dono de cada parte do seu corpo?

A culpa era avassaladora.

A vergonha a corroía.

Mas... a felicidade a desarmava.

Sentia-se leve. Sentia-se viva. Sentia-se liberta.

— Eu não sou assim... — sussurrou para o próprio reflexo.

Mas a imagem no espelho não a repreendia.

Ela apenas sorria. Um sorriso tímido... mas satisfeito.

Entrou no chuveiro, e conforme a água morna descia por sua pele, as lembranças vieram com força.

As mãos dele.

A boca dele.

Os gemidos.

Os olhos cravados nos dela enquanto seus corpos se uniam com uma entrega absurda.

A língua.

Instintivamente, Alicia passou a mão pelo próprio corpo, relembrando cada toque.

Fechou os olhos, apertou os seios, desceu lentamente pelos quadris, e sentiu de novo... o calor. O desejo.

Queria mais.

Mais dele.

Mais daquilo.

Mais de tudo.

Como alguém desconhecido pôde fazê-la sentir tanto?

Como pôde perder tanto o pudor?

Mas não havia volta.

Nunca mais seria a mesma.

Ela terminou o banho, enxugou-se devagar, vestiu um pijama leve e deitou-se na cama com os cabelos ainda úmidos.

Queria lembrar seu rosto, mas estava tão confusa...

Pensou no lenço. No toque respeitoso ao final. No beijo terno após o prazer selvagem.

Ele era real?

Ou apenas uma fantasia que o universo lhe concedeu por uma noite?

Adormeceu com o corpo saciado, mas a mente em ebulição.

Sonhou com mãos. Com bocas. Com olhos escuros e a voz rouca sussurrando “você é perfeita”.

O despertador não tocou.

Acordou num salto, assustada, olhando o celular:

08h00.

— Oh céus! — exclamou, saindo da cama como um raio.

Alicia sempre chegava ao escritório às 08h45. Gostava de estar adiantada, de ter tempo para organizar sua mesa, revisar o que fosse necessário, e tomar seu café com calma.

Mas naquela manhã, nada estava sob controle.

Vestiu-se às pressas — uma calça de alfaiataria cinza e uma blusa de seda branca, e um belo casaco Off-Whit longo e elegante — enquanto ajeitava o cabelo no espelho e passava o batom com pressa.

O rosto estava bonito como sempre.

O olhar... diferente.

Mais intenso. Mais brilhante. Mais mulher.

Pelo menos, pensou aliviada, morava a poucos minutos do escritório.

Vestida, elegante e no salto, Alicia saiu às pressas. O sol frio da manhã parecia zombar do caos em sua mente.

Ainda estava atordoada — não apenas pelo atraso, mas pela lembrança latejante daquela noite. Um estranho que a tocou como nenhum homem jamais fizera. Um estranho que jamais esqueceria.

Chegou ao edifício moderno onde funcionava o prestigiado escritório de advocacia Whitmore & Hunt LLP, subiu pelo elevador de vidro e tentou respirar fundo.

— Controle. Discrição. Foco. — sussurrou a si mesma.

Assim que entrou no andar principal, cruzou com ele.

Adrian Leal.

O terno azul marinho, o olhar confiante, a mesma expressão de sempre — como se o mundo o admirasse. E, de fato, admirava. O problema era saber demais quem ele era de verdade.

Ele a observou de cima a baixo, como quem avalia uma propriedade que tem nas mãos. Sorriso de canto. Suficiente. Arrogante.

— Acordou atrasada? — comentou com falsa leveza. — Isso não é muito seu estilo.

Alicia manteve o olhar firme. Não valia a pena dar-lhe o gosto de qualquer reação.

— Tem razão. Mudanças de hábito às vezes vêm acompanhadas de... revelações.

Ele arqueou a sobrancelha, confuso.

— Como assim?

Ela se aproximou um passo.

— Como, por exemplo... descobrir que certas viagens de negócios não passam de desculpas para se estar com outra mulher.

O sorriso dele sumiu por completo.

— Eu... — ele começou, mas nada saiu.

Alicia inclinou a cabeça com elegância.

— Pode guardar a explicação, Adrian. Eu vi. E já passou da hora de deixar de ser cega.

Virou-se e seguiu pelo corredor. O salto ecoava como um veredicto.

Adrian ficou ali, imóvel.

Os ombros tensionados, a mandíbula cerrada.

Alicia sentiu o olhar dele queimando em suas costas. Mas não se abalou.

Ela havia mudado.

Seguiu até sua sala e fechou a porta com calma. Encostou-se na madeira por um instante, tentando controlar a respiração.

Foi então que ouviu a voz animada de sua colega e amiga, entrando sem bater como de costume:

— Bom diaaa! Meninaaaa, me conta TUDO! — disse Lorena Tavares, advogada brilhante do mesmo escritório, mais velha que Alicia, 32 anos, sua confidente e parceira de cafés fora de hora. — Eu não consegui ir ontem! Atendi uma emergência no interior com um cliente surtado. Mas fiquei sabendo que a festa estava maravilhosa... Cadê os babados?

Alicia respirou fundo, abriu um leve sorriso e se sentou à frente do computador.

— Lorena, você não faz ideia...

— Ai, não enrola, mulher! Me conta! Como estava o buffet? Os figurões? E, mais importante: aquelas mulheres do jurídico da Mendes Tech estavam se achando mesmo?

Alicia riu baixo. Aquela era Lorena: tagarela, observadora, afiada.

— O buffet estava ótimo. As Mendes Tech também... mas — hesitou, encarando a amiga com um olhar mais sério — o que aconteceu comigo ontem foi... inesperado.

— Ué? O que houve? — Lorena se sentou de frente para ela, curiosa. — Aconteceu alguma coisa?

— Eu... — Alicia desviou os olhos. — Eu vi o Adrian com outra mulher.

— O quê? — Lorena arregalou os olhos. — Na festa? Na frente de todo mundo?

Alicia assentiu, mordendo levemente o lábio inferior.

— Foi humilhante. Eu não esperava... mesmo depois de tudo. Foi como se ele tivesse rido da minha dor, publicamente.

— Aquele filho da... — Lorena conteve-se. — Ai, eu sabia que ele não prestava. Mas você tá bem?

Alicia respirou fundo.

— Eu não sei. Acho que sim. Eu fiquei muito abalada, bebi um pouco demais e... fui tentar achar o banheiro. Foi aí que... — ela hesitou — um homem apareceu.

— Hmmm... um homem? — Lorena cruzou os braços e se inclinou pra frente com aquele sorrisinho malicioso. — Bonito?

— Lindo. Impressionante, na verdade. Alto, elegante, discreto, mas... com um olhar que desarma. Ele me viu meio pálida e tonta, perguntou se eu estava bem... e depois sumiu.

— Sumiu? Assim, do nada?

— Sim. Ele desapareceu. E eu... acabei indo embora. Sozinha.

Ela não podia contar a verdade. Não sobre aquela parede. Não sobre aquele beijo. Não sobre aquele toque.

Ainda não.

Lorena assentiu, compreensiva.

— Bom... pelo menos não terminou a noite com o Adrian, né? Esse já devia ter sumido da sua vida faz tempo.

Alicia sorriu de leve, melancólica.

— É... eu também acho.

Mas, no fundo, ela só conseguia pensar na boca daquele homem. Na voz. Na maneira como ele a olhou como se enxergasse sua alma... e como a despiu como se já a conhecesse.

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