Alicia Parker tinha aprendido a dominar cada passo, cada olhar, cada palavra.
Naquela noite, usava um vestido preto de seda que delineava suas curvas com elegância discreta. Os cabelos soltos caíam em ondas sobre os ombros, e os lábios estavam perfeitamente desenhados em um tom nude. Ela estava impecável. Como sempre. Como todos esperavam. O salão era luxuoso, repleto de empresários, advogados, políticos e rostos conhecidos do mercado corporativo. A festa anual do grupo Revan era um dos eventos mais importantes da elite empresarial do país — e o escritório onde Alicia trabalhava era um dos patrocinadores. Alicia hesitou até o último momento. Estava decidida a não comparecer à festa — aquela semana havia sido exaustiva, e a ideia de encarar pessoas, sorrisos forçados e conversas de interesse a entediava. Adrian, seu namorado, havia dito que não iria. Um jantar com investidores fora da cidade, algo importante demais para cancelar. Foi isso que ele disse. Foi isso que ela acreditou. Mas algo — talvez um instinto, talvez teimosia — a fez trocar o pijama pelo vestido de seda. Só para “dar uma passada rápida”, como dissera a si mesma. Não sabia se estava fugindo da solidão ou buscando sentir-se viva entre desconhecidos. O coração bateu mais forte quando entrou no salão. Tinha uma esperança tola de encontrá-lo ali por acaso, sorrindo surpreso ao vê-la. Mas o que encontrou foi algo bem diferente. Ela caminhava entre os convidados com sua taça de espumante quando o viu. Adrian Leal. Alto, imponente, sorriso encantador. Terno alinhado, copo de whisky na mão e, ao seu lado, uma mulher — linda, provocante, com as mãos pousadas perigosamente perto da cintura dele. Alicia parou por instantes, engolindo seco. Observou. Não, ela não estava imaginando. A mão da mulher deslizou para as costas de Adrian com intimidade, e ele sorriu de volta com o mesmo olhar que, anos antes, ele usara com ela. Aquele olhar que a fez acreditar que era única. Ela desviou os olhos antes que fosse notada. O peito apertava, como se o passado voltasse a respirar dentro dela. Segurou a taça com mais força, deu um gole mais fundo do que deveria, e foi buscar outra. Depois mais uma. E outra. Alicia não sabia beber. Sabia apenas disfarçar. — Com licença... — murmurou, afastando-se dos colegas. O corredor lateral do salão era decorado com luzes âmbar e vasos de orquídeas. Ela procurava o banheiro com passos rápidos e desajeitados, tentando manter a pose enquanto o mundo parecia flutuar sob seus pés. Foi quando alguém cruzou por ela. Alto, de ombros largos, terno escuro impecável, barba bem aparada, olhar firme e obscuro. Victor D’Abruzzi. Ela não sabia quem ele era. Ainda. Mas ele parou. Olhou para ela com atenção e disse: — Está tudo bem? A voz dele era grave, baixa, como uma brisa quente soprando direto em seu estômago. — Estou... ótima — Alicia mentiu, tentando sorrir. — Só bebi um pouco mais do que deveria. — Você está pálida. — Ele deu um passo mais próximo, observando seu rosto. — Tem certeza? Ela assentiu rapidamente e entrou no banheiro, trancando a porta. Dentro, apoiou-se na pia, o coração acelerado mais pela presença dele do que pelo álcool. Tentou colocar para fora o que havia bebido, mas não conseguiu. Escovou os dentes. Retocou a maquiagem com mãos precisas, como se estivesse apenas corrigindo uma audiência difícil. A imagem no espelho voltou a parecer perfeita. Mas por dentro... o caos. Quando saiu, já decidida a ir embora sem que ninguém a visse, tomou um corredor lateral e empurrou uma porta de emergência que dava para uma ruela escura e silenciosa, atrás do prédio. O ar gelado da noite a envolveu. Alicia respirou fundo, ainda com leve tontura em razão da bebida. Queria desaparecer. Mas antes que desse dois passos, uma mão firme segurou seu braço. — Onde pensa que vai? — disse uma voz conhecida, baixa, autoritária. Era ele. O homem do corredor. Victor D’Abruzzi. Ela se assustou, tentando se soltar. Ele a puxou com firmeza, porém sem agressividade, apenas... comando. Havia algo naquele olhar que a desarmava. — Eu vi você lá dentro — ele disse. — Vi seu olhar, seu disfarce. E agora está fugindo? — Não é da sua conta — ela respondeu, tentando manter a frieza. — Talvez não. Mas você é linda demais pra sair assim... sozinha, apagada. Ela tentou se afastar, mas ele a pressionou contra a parede fria da lateral do prédio. O corpo dele próximo ao dela, olhos fixos nos dela, respiração quente. — Me solta — sussurrou, sem força na voz. Ele não respondeu. Apenas a olhou como se lesse sua alma... e então a beijou. Um beijo louco, intenso, faminto. Ela deveria ter resistido. Mas não resistiu. O calor entre suas pernas foi imediato. O toque dele era firme, quente, urgente. Uma de suas mãos subiu por sua coxa até levantar o vestido. Ela estava molhada. Sem entender como, sem saber por quê. — Meu Deus... — ele sussurrou com a boca encostada em seu pescoço. — Você é deliciosa. Ela ofegava, presa à parede e ao próprio corpo que a traía. Victor desceu os beijos pelo colo, mordeu de leve seu seio por cima do sutiã rendado, desceu mais... e a tocou com os dedos com maestria. Ela explodiu em sensações que nunca havia sentido antes. Não com Adrian. Não com ninguém. Victor a beijava, a tocava, a dominava. E ela queria mais. Queria tudo. Sem dizer uma palavra, ele desceu novamente, agora com a boca. Ajoelhou-se diante dela como quem se curva diante de algo sagrado. Seus dedos afastaram delicadamente a calcinha fina de Alicia para o lado, revelando sua intimidade úmida e pulsante. Ela encostou a cabeça na parede, arfando, tentando se equilibrar no salto. Mas então, o calor da língua dele a tocou, e um gemido baixo escapou de sua garganta. Victor não teve pressa. Lambeu com suavidade no início, explorando cada detalhe, cada reação. Quando sentiu o corpo dela estremecer, aprofundou o gesto. Alicia quase perdeu as forças nas pernas. Ele a chupava com desejo voraz, como se beber dela fosse sua única fonte de prazer. Envolvia-a com a boca, penetrava com a língua e os dedos ao mesmo tempo, alternando ritmos, apertando as coxas dela com firmeza. Alicia mordeu os lábios, olhos fechados. Nunca, jamais, em toda a sua vida, havia sentido algo parecido. — Meu Deus... — sussurrou sem perceber. Ela veio com força. O orgasmo a atingiu como um raio, percorrendo-lhe a espinha, os seios, os dedos, a alma. O corpo inteiro convulsionou de prazer, e ela arfava como se houvesse corrido uma maratona. Victor se levantou lentamente, com um olhar faminto e satisfeito. Beijou-a nos lábios. Ela sentiu o próprio gosto. Delicioso. Intenso. Íntimo. O contato das bocas a fez querer mais — então Alicia, instintivamente, pressionou o corpo contra ele e sentiu o volume rígido dentro da calça social. Grande. Latejante. Pronto. Ela arfou novamente e o encarou. Foi quando ele perguntou: — Você me quer? Ela hesitou por um instante. Apenas um. Depois se aproximou do ouvido dele e murmurou: — Quero você... todinho dentro de mim. Por favor... Victor a encarou por um momento que pareceu eterno. Seus olhos estavam flamejantes, escuros, tomados de desejo e admiração. Então ele a segurou pela cintura, pressionando o corpo contra o dela, e a levantou levemente com força e cuidado, até que suas costas repousassem contra a parede. De frente. Olhos nos olhos. Pele na pele. Ela envolveu sua cintura com as pernas, e ele a penetrou com força e profundidade, em um movimento único e preciso. O ar escapou dos pulmões de Alicia num gemido sufocado. Ali, diante dele, com o corpo colado, ela sentia cada movimento, cada pulsar. O olhar de Victor permanecia fixo no dela. Intenso. Nu. Ela gemia com os olhos fechados, e ele sussurrava contra sua boca: — Olha pra mim... sente isso... você é perfeita... Os corpos se movimentavam num ritmo que aumentava a cada segundo. Era mais do que físico. Era conexão bruta e inexplicável. Eles explodiram juntos. Um êxtase compartilhado, profundo, como se os dois estivessem sendo tomados por uma força maior que eles. Ele então retirou o lenço de bolso — fino, branco, com um brasão bordado — e limpou os dois com cuidado e respeito. Depois a abraçou. Alicia, com o rosto colado ao tórax musculoso dele, sentiu algo que não esperava: Lágrimas. Silenciosas, quentes. Desciam pelos olhos e escorriam pelo rosto. Lágrimas de alívio. De gratidão. De prazer. De culpa. Ela apertou o rosto contra o peito dele para que ele não percebesse. Então, no meio do silêncio, ele quebrou o feitiço com uma pergunta simples: — Como você se chama? Alicia hesitou. Sabia que nunca mais o veria. E, por algum motivo inexplicável, quis se esconder naquela lembrança. — Lúcia — respondeu com a voz baixa, quase infantil. Victor sorriu, passando o dedo indicador pelo queixo dela. — Hum... minha linda desconhecida então se chama Lúcia. — Muito prazer — completou, com um olhar quase terno. Ela sorriu de leve, sem forças para dizer qualquer coisa. Não perguntou seu nome. Não queria saber. Era mais seguro assim. — Vamos entrar — disse ela, ajeitando o vestido e caminhando de volta ao prédio. Ele assentiu com um gesto e a seguiu até o banheiro. Alicia entrou, lavou o rosto, retocou a maquiagem com a precisão de quem precisava se recompor por fora, embora por dentro estivesse em pedaços — pedaços bons, intensos, vivos. Quando saiu... Victor não estava mais lá. Olhou para os lados, mas ele havia desaparecido. Sem pensar, apressou-se pela mesma porta de emergência por onde tudo começou. Caminhou pela ruela silenciosa, cruzou a calçada e logo avistou um táxi passando. Fez sinal. Entrou no carro com o corpo cansado e a alma em combustão. “Foi só uma noite”, pensou. Mal sabia ela... que aquela noite não terminaria ali. (Victor) Victor saiu do banheiro poucos minutos depois. Tinha lavado o rosto, passado um pouco de água na nuca e ajeitado o paletó como se fosse possível, com um simples gesto, reorganizar o caos que Alicia — ou melhor, Lúcia — havia causado nele. Não sabia explicar. Ele, que era tão controlado, metódico, sempre no comando, havia perdido completamente a razão no beco atrás de um prédio, com uma desconhecida. Mas não era qualquer mulher. Ela era diferente. Cheirosa, intensa, rendida, mas forte. Havia algo nos olhos dela — mesmo molhados, mesmo feridos — que o deixou vulnerável. E ele odiava se sentir vulnerável. Caminhou até o corredor lateral e olhou em volta, esperando encontrá-la. Talvez sentada, talvez esperando por ele. Nada. Voltou até a porta de emergência. Ruela vazia. Entrou novamente. Percorreu os arredores discretamente, como quem não quer parecer afetado, mas estava. E muito. — Lúcia... — murmurou, quase com raiva de si mesmo. — Quem faz isso? Quem se entrega daquele jeito e depois simplesmente... some? Ele passou a mão no cabelo, irritado com a própria expectativa. O que esperava? Que ela surgisse sorrindo, com os olhos ainda brilhando? Que aceitasse ir para casa com ele? Mas no fundo... era exatamente isso. Queria levá-la. Queria saber mais. Queria sentir de novo o gosto da sua pele, ver o jeito como ela arqueava o corpo quando chegava ao clímax. Victor D’Abruzzi não era homem de se apaixonar. Mas aquela mulher — aquela Lúcia — havia deixado nele algo que nem o tempo, nem o silêncio, nem o luxo ao redor seriam capazes de apagar tão cedo. Saiu pela frente do prédio e procurou por táxis, por vultos. Nada. Ela havia ido embora. E ele ficou parado na calçada, com um nó na garganta que jamais admitiria em voz alta. Sabia apenas uma coisa: Precisava vê-la novamente.