Mundo ficciónIniciar sesiónEm 1846, Sophia Halloway, uma jovem de espírito livre e curiosidade perigosa, muda-se para a mansão de sua tia viúva em Ravenshore, uma vila esquecida pela modernidade e cercada por lendas. Dizem que a floresta ao norte é amaldiçoada — que ninguém retorna após atravessar seus portões de ferro. Lá, Sophia conhece Alaric Vane, um nobre recluso e enigmático que raramente é visto à luz do dia. Ele habita o antigo Castelo de Avelmor, e sua presença desperta tanto desejo quanto temor. Quando uma sequência de mortes inexplicáveis perturba a vila, Sophia se vê dividida entre a atração irresistível pelo misterioso conde e o horror das verdades que ele esconde — um amor que desafia o tempo, a morte e a própria natureza humana. Entre rosas carmesim, segredos de sangue e promessas quebradas, nasce uma paixão amaldiçoada… e uma guerra silenciosa entre o amor e a escuridão.
Leer másO crepúsculo descia sobre o condado de Ravenshore como um véu de cinzas. As árvores, retorcidas e úmidas pela neblina constante, inclinavam-se sobre a estrada de terra, formando arcos naturais que pareciam observar a carruagem que avançava lenta, rangendo sob o peso da chuva.
O vento uivava entre os galhos como um lamento antigo. O cheiro de terra encharcada misturava-se ao da madeira molhada, e cada trovão parecia vibrar nas costelas dos cavalos. Dentro da carruagem, Sophia Halloway tentava ignorar o frio que se infiltrava por entre as frestas da janela. Enrolada em seu xale de lã, observava o campo enevoado, onde sombras dançavam sob o relâmpago como figuras de outro mundo. Era sua primeira vez tão longe de Londres — e a sensação era de que havia deixado não apenas a cidade, mas o próprio mundo para trás. Tudo em Ravenshore parecia mais antigo, mais silencioso, como se o tempo ali tivesse parado para ouvir os sussurros da terra. Seu pai havia morrido meses antes, deixando-lhe apenas dívidas e uma carta da irmã dele, Lady Margaret, convidando-a a viver em sua propriedade no interior. O convite soara generoso demais — e agora, com o som distante dos lobos ecoando pela mata, Sophia começava a se perguntar se não havia sido também uma armadilha. — Ainda falta muito? — perguntou ao cocheiro, erguendo a voz sobre o barulho da chuva. — Não mais que uma milha, senhorita — respondeu ele, sem olhá-la. A voz soava tensa, apressada. — Mas convém rezar para que os portões ainda estejam abertos. — Portões? — ela perguntou, franzindo o cenho. O homem não respondeu. Apenas chicoteou os cavalos, impaciente. Sophia se voltou para a janela. O vidro embaçado refletia seu próprio rosto pálido, o cabelo ruivo desgrenhado escapando do coque, os olhos verdes arregalados. Por um instante, pareceu ver outro par de olhos — escuros, fixos, onde não deveria haver ninguém. Ela piscou. Nada. Apenas o bosque denso e a névoa engolindo o caminho. Mas então, algo se moveu entre as árvores. Rápido demais para ser humano. O coração dela acelerou. Um estalo seco. Depois, um relincho. Os cavalos empinaram, e a carruagem inteira sacudiu como se tivesse sido atingida por algo invisível. Sophia gritou quando o veículo derrapou e tombou de lado. O mundo girou — e tudo se fez silêncio. Ela sentiu o gosto metálico do sangue no lábio e o cheiro forte da lama entrando pelas frestas. Por um momento, ficou ali, ofegante, até que o medo venceu o choque. — Senhor? — chamou, tentando sair. — Está tudo bem? Nenhuma resposta. O silêncio lá fora era pesado demais. Quase... atento. Sophia empurrou a porta com esforço e caiu na lama. O vestido, agora encharcado, colava-se à pele, e o frio cortava seus ossos. O cocheiro não estava mais no assento. Apenas as rédeas balançavam sozinhas. Ela engoliu em seco. E então viu. À frente dos cavalos, uma sombra imóvel. Alta, esguia, envolta por um sobretudo escuro. A chuva escorria por ele sem molhá-lo. Quando deu um passo à frente, o ar pareceu mudar — pesado, denso, como se a própria noite prendesse a respiração. Sophia recuou instintivamente. — Está ferida? — a voz dele quebrou o silêncio. Grave, rouca... e estranhamente suave. Ela hesitou, tentando enxergar o rosto sob o capuz. — Eu… acho que não. Mas… meu cocheiro… desapareceu. Ele se aproximou mais um passo, e o relâmpago iluminou o contorno de um rosto: feições marcadas, maxilar firme, a pele branca como mármore — e olhos tão escuros que pareciam não refletir a luz. — Vá para a estrada — disse ele, a voz baixa, quase um comando. — Este lugar não é seguro. Ela sentiu o estômago se revirar, não apenas pelo medo. Havia algo na presença dele… uma força que a fazia querer obedecer, e ao mesmo tempo, o impulso contrário — o de se aproximar. — Quem é o senhor? — perguntou, a voz tremendo mais de curiosidade que de pavor. Ele sorriu. Um sorriso lento, frio, mas... belo. Não havia calor nele, mas algo que a fez estremecer. — Apenas alguém que prefere a noite. Ela o observou. O capuz deixava entrever o brilho de uma fivela dourada no colarinho e o reflexo de algo como uma corrente prateada, fina, no pescoço. Mas o que realmente a perturbou foi perceber que ele não parecia respirar. Um raio iluminou a estrada — e por um instante, ela teve certeza de que os olhos dele brilharam em vermelho. Sophia deu um passo para trás. — O senhor… mora por aqui? — De certa forma. — Ele inclinou a cabeça, avaliando-a. — E a senhorita, o que faz sozinha em Ravenshore, à beira da noite? — Estou indo à mansão Halloway. Lady Margaret é minha tia. Por um momento, algo mudou na expressão dele. Um reconhecimento silencioso, um vestígio de interesse… ou de lembrança. — Então é você — murmurou, quase para si. — O quê? — ela perguntou, mas ele não respondeu. Um trovão sacudiu o chão. Quando Sophia piscou, ele já não estava mais ali. Ela girou, o coração martelando. A estrada estava vazia. Apenas a chuva fina caía outra vez, como se nada tivesse acontecido. Mas o ar ainda carregava o cheiro doce de rosas esmagadas. Sophia olhou para baixo — uma pétala vermelha estava presa à barra de seu vestido. Pegou-a entre os dedos, e por um instante, jurou sentir o calor de um corpo recente naquele pequeno fragmento. O cocheiro foi encontrado alguns minutos depois, correndo pela estrada, pálido, jurando ter ouvido um sussurro dentro da floresta. Nenhuma alma acreditou nele, mas Sophia... acreditou. Quando finalmente chegou à mansão de sua tia, ainda trêmula, jurou não contar a ninguém o que vira. Mas ao atravessar o grande hall de entrada, viu, sobre a mesa de mármore, uma única pétala vermelha. E, na névoa além do portão, dois olhos escuros a observando — fixos nela, como se já a conhecessem.O amanhecer em Ravenshore era sempre uma promessa não cumprida de sol. A neblina era uma entidade permanente, rastejando sobre as colinas e cercando a Mansão Halloway como um segredo bem guardado.Sophia passou a manhã evitando a ala leste da casa e, principalmente, Lady Margaret. O toque gélido de Alaric ainda vibrava em sua clavícula. Ela era uma presa — uma presa que acabara de empurrar o predador para longe. O que ele faria agora?Quando o relógio soou as três da tarde, Lady Margaret a chamou.— Venha, Sophia. Vamos ao povoado. Precisamos de provisões, e você precisa se acostumar com a paisagem de Ravenshore.A carruagem, desta vez com um cocheiro mais robusto e silencioso, avançou lentamente pela estrada encharcada. A paisagem era desolada, mas pitoresca: casas de pedra cinzenta, cercas vivas e igrejas antigas com campanários retorcidos.Margaret estava sentada à sua frente, imperturbável.— O povoado é pequeno e fechado, minha cara. Eles não gostam de estranhos.— Por qu
Sophia acordou sentindo o peso da noite pairar sobre ela, não como um sonho, mas como uma presença real. Ela estava sendo caçada. E o que era mais perturbador, parte dela queria desvendar a verdade por trás daquele caçador.No desjejum, Lady Margaret estava ausente. A criada, apressada, informou que a senhora tinha "assuntos urgentes" no exterior. Sophia comeu sozinha, o silêncio da mansão mais audível que nunca.Ela aproveitou a ausência da tia. A curiosidade sobre Alaric e o mistério de Ravenshore era um fogo que não podia ser apagado. O retrato de Lorde Vane, com seu sorriso frio, a chamava.A biblioteca da ala leste era o destino lógico. O lugar era um sepulcro de histórias, com um odor forte de cedro e mofo. Sophia acendeu uma lanterna a óleo e começou a busca.Demorou horas. Ela procurou nos registros de terras, nos arquivos de família, até que, no fundo de uma prateleira, encontrou um volume desgastado, encadernado em veludo cinza, quase escondido. Não tinha título, apenas
A luz cinzenta da manhã filtrava-se pelas cortinas pesadas, um pálido espectro de sol tentando romper a neblina que envolvia Ravenshore.Sophia despertou com o som distante de passos no corredor e o estalar do fogo já aceso na lareira — alguém havia estado ali antes que ela abrisse os olhos.Por um momento, ficou imóvel, tentando lembrar se havia sonhado. O peso no peito, o frio na nuca, a sensação de ser observada… tudo parecia tão real.Ergueu-se lentamente, sentindo o lençol ainda frio, e notou algo que a fez prender a respiração: pequenas marcas de lama no chão de madeira, perto da porta. Alguém estivera ali.Ela se ajoelhou, tocando o vestígio quase seco. As marcas eram grandes, muito maiores que as de uma mulher — e terminavam abruptamente, como se o dono dos passos tivesse se desfeito no ar.Engoliu em seco.Antes que pudesse pensar mais, alguém bateu à porta.— Senhorita Halloway? — a voz da criada era gentil, mas tensa. — Lady Margaret pediu que descesse para o desjejum.Soph
O som da porta fechando atrás de Sophia ecoou pela imensidão do saguão, abafando o uivo distante do vento. Um silêncio pesado caiu sobre ela, quebrado apenas pelo gotejar da água que escorria de seu casaco encharcado. A mansão parecia respirar. As paredes úmidas exalavam o cheiro de pedra fria e cera derretida. No hall de entrada, o mármore negro refletia o brilho trêmulo das velas dispostas em castiçais altos, e as sombras se alongavam como dedos. Sophia apertou o xale contra o peito. O coração ainda batia acelerado. A lembrança daqueles olhos na névoa — escuros, inumanos — ainda queimava em sua mente. Foi então que ouviu passos. Do alto da escadaria, uma mulher surgiu. Alta, magra, envolta em um vestido preto de gola alta e mangas longas. Seu cabelo grisalho estava preso num coque impecável, e seus olhos, de um cinza quase prateado, tinham o mesmo brilho cortante do luar. — Sophia Halloway? — A voz era firme, fria, com um leve sotaque londrino que o tempo não apagara. — Sim, m
O crepúsculo descia sobre o condado de Ravenshore como um véu de cinzas. As árvores, retorcidas e úmidas pela neblina constante, inclinavam-se sobre a estrada de terra, formando arcos naturais que pareciam observar a carruagem que avançava lenta, rangendo sob o peso da chuva.O vento uivava entre os galhos como um lamento antigo. O cheiro de terra encharcada misturava-se ao da madeira molhada, e cada trovão parecia vibrar nas costelas dos cavalos. Dentro da carruagem, Sophia Halloway tentava ignorar o frio que se infiltrava por entre as frestas da janela. Enrolada em seu xale de lã, observava o campo enevoado, onde sombras dançavam sob o relâmpago como figuras de outro mundo.Era sua primeira vez tão longe de Londres — e a sensação era de que havia deixado não apenas a cidade, mas o próprio mundo para trás. Tudo em Ravenshore parecia mais antigo, mais silencioso, como se o tempo ali tivesse parado para ouvir os sussurros da terra.Seu pai havia morrido meses antes, deixando-lhe apenas
Último capítulo