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Capítulo 2 – A Chegada à Mansão Halloway

O som da porta fechando atrás de Sophia ecoou pela imensidão do saguão, abafando o uivo distante do vento. Um silêncio pesado caiu sobre ela, quebrado apenas pelo gotejar da água que escorria de seu casaco encharcado.

A mansão parecia respirar. As paredes úmidas exalavam o cheiro de pedra fria e cera derretida. No hall de entrada, o mármore negro refletia o brilho trêmulo das velas dispostas em castiçais altos, e as sombras se alongavam como dedos.

Sophia apertou o xale contra o peito. O coração ainda batia acelerado. A lembrança daqueles olhos na névoa — escuros, inumanos — ainda queimava em sua mente.

Foi então que ouviu passos.

Do alto da escadaria, uma mulher surgiu. Alta, magra, envolta em um vestido preto de gola alta e mangas longas. Seu cabelo grisalho estava preso num coque impecável, e seus olhos, de um cinza quase prateado, tinham o mesmo brilho cortante do luar.

— Sophia Halloway? — A voz era firme, fria, com um leve sotaque londrino que o tempo não apagara.

— Sim, minha senhora. — Ela fez uma reverência trêmula. — A senhora deve ser minha tia… Lady Margaret.

A mulher assentiu. — Sim. — Desceu os degraus com passos lentos, calculados. — Faz tantos anos… e ainda assim, o sangue não se engana. Você tem os olhos do seu pai.

Sophia forçou um sorriso, mas a menção do pai lhe apertou o peito.

— Venha. — Margaret fez um gesto para que a seguisse. — Está encharcada. Ninguém devia viajar à noite por Ravenshore.

— Eu… não pretendia, mas o cocheiro disse que estávamos perto, e… — hesitou. — Algo aconteceu na estrada.

A tia parou, virando-se lentamente. — Aconteceu?

— Um homem — respondeu Sophia, engolindo em seco. — Alto, de sobretudo escuro. Os cavalos se assustaram… ele apareceu do nada.

Por um instante, a expressão de Lady Margaret pareceu se alterar. Um lampejo rápido de inquietação atravessou seus olhos — e depois sumiu.

— Imaginação, minha querida. — Sua voz soou calma demais. — A noite em Ravenshore engana os sentidos.

Sophia quis protestar, mas o tom não deixava espaço. Seguiu-a até o salão principal, onde uma lareira crepitava, lançando luz avermelhada sobre móveis antigos. Os quadros nas paredes mostravam rostos de antepassados — todos com o mesmo olhar austero, sombras eternas nos olhos.

— A casa é linda… — murmurou Sophia, mais para si mesma.

— E solitária — respondeu Margaret, sentando-se numa poltrona diante do fogo. — Desde que seu pai partiu de Ravenshore, nunca mais houve risos nestas paredes.

Sophia sentou-se à frente, tentando aquecer as mãos. — Ele falava muito pouco sobre o passado.

— Melhor assim. — A tia tomou um gole de chá que a criada acabara de servir. — Há lembranças que não devem ser desenterradas.

A resposta deixou o ar pesado. Sophia desviou o olhar e o pousou sobre um retrato pendurado acima da lareira — o de um homem jovem, de feições fortes e olhar escuro.

Algo naquele rosto a fez estremecer.

— Quem é ele? — perguntou.

Margaret ergueu os olhos. — Um dos antigos donos da casa. Lorde Alaric Vane.

O nome soou como um murmúrio, familiar, como se o vento o tivesse sussurrado na estrada horas antes.

— Morreu há muito tempo? —

— Há mais de um século — respondeu a tia, sem emoção. — E ainda assim, há quem jure ouvi-lo andar pelos corredores nas noites de lua nova.

Um sorriso irônico surgiu nos lábios de Margaret, mas Sophia não conseguiu rir. O retrato parecia observá-la.

— Suba e descanse. — A voz da tia interrompeu o silêncio. — Amanhã conversaremos com mais calma.

Sophia assentiu e seguiu a criada até o andar de cima. O quarto que lhe fora preparado tinha cortinas pesadas, móveis de carvalho e um espelho antigo diante da cama. A criada a ajudou a trocar o vestido molhado e deixou uma vela acesa sobre o criado-mudo.

— Boa noite, senhorita. — A mulher parecia ansiosa para sair. — E… mantenha as janelas fechadas. O vento aqui é traiçoeiro.

Assim que ficou sozinha, Sophia caminhou até o espelho. Seu reflexo parecia pálido sob a luz amarela. Tocou a barra do vestido seco — e algo caiu de dentro do bolso.

A pétala vermelha.

Ela a segurou por um instante. Ainda fresca.

A vela oscilou. Uma corrente de ar frio atravessou o quarto. Sophia virou-se depressa.

Nada.

Mas o silêncio… era denso demais.

Deitou-se, tentando convencer a si mesma de que o medo era apenas exaustão. O som distante da chuva e o estalar da madeira da casa a embalaram num torpor inquieto.

Até que acordou com o sussurro.

Um som tão suave que parecia nascer dentro de sua mente.

“Sophia…”

Ela se ergueu, o coração acelerando. — Quem está aí?

A vela tremeluzia, prestes a apagar. Caminhou até a porta e a abriu. O corredor estava escuro, mas lá embaixo, um brilho fraco — vindo da lareira quase apagada — iluminava o saguão.

E havia alguém lá.

Uma figura alta, imóvel diante do fogo. O sobretudo escuro. Os cabelos molhados.

Sophia desceu um degrau, o chão rangendo sob seus pés.

— O senhor… —

Ele virou-se lentamente. Era o homem da estrada.

A chama vacilou quando seus olhos se encontraram. Negros, intensos, e ainda assim… humanos demais para serem apenas escuridão.

— Eu devia ter certeza de que chegou em segurança — disse ele.

— O que faz aqui? — A voz dela era um sussurro.

— Cumpro uma promessa antiga. — O tom era baixo, quase um rosnado contido. — E Ravenshore não é gentil com os que chegam sozinhos.

Sophia tentou se afastar, mas o olhar dele a prendia. Não havia ameaça — apenas um magnetismo que a puxava como o fogo puxa a chama.

— Como sabe meu nome? —

— Porque já o ouvi antes. — Ele deu um passo à frente, e a distância entre eles pareceu sumir. — Há muito tempo.

Ela recuou até sentir a parede fria nas costas. Ele estava perto o bastante para que ela sentisse o perfume — o mesmo da estrada, o mesmo cheiro de rosas esmagadas.

O ar ficou denso.

— O senhor não devia estar aqui — murmurou.

Ele inclinou a cabeça, o olhar fixo nos lábios dela. — Não devia, não. — Um sorriso leve, quase triste. — Mas há séculos deixei de fazer o que devia.

A vela no andar de cima se apagou.

Sophia piscou — e ele não estava mais lá. Apenas o cheiro doce no ar, e o eco de uma presença que o tempo não podia apagar.

Quando voltou para o quarto, encontrou a janela entreaberta, as cortinas agitadas pelo vento.

E sobre o travesseiro, repousava uma rosa vermelha.

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