A luz do monitor piscava em intervalos suaves, emitindo um bip constante que fazia parte da nova trilha sonora do meu peito. Sara estava ali, deitada na cama de hospital, o rosto ainda marcado pelas sombras da agressão. O colar cervical permanecia, cercado por bandagens, e o soro gotejava devagar, como se o tempo precisasse andar no ritmo dela para que o mundo fizesse sentido de novo.
Enzo estava sentado do outro lado do quarto, em silêncio, como eu. Desde que ela foi internada, a gente vinha se revezando para não deixá-la sozinha nem por um segundo. Mas essa noite, nenhum dos dois quis sair. Nem falar. Nem respirar demais.
Era como se um pacto silencioso tivesse sido selado: ninguém a toca mais. Nunca mais.
Eu observava o peito dela subir e descer devagar, e mesmo ferida, mesmo frágil, ela ainda era a mulher mais forte que eu conhecia. Forte o suficiente para me fazer questionar todas as minhas certezas. Forte o suficiente para me fazer parar uma guerra se ela pedisse.
Mas agora…