A manhã chegou arrastando uma ressaca emocional que nem café forte conseguiria curar. Me vesti no piloto automático, prendi o cabelo num rabo de cavalo e desci para a cozinha com a esperança ingênua de que o mundo tivesse voltado ao normal enquanto eu dormia. Mas bastou pisar no andar de baixo para sentir.
O clima estava irrespirável.
Luca estava na cabeceira da mesa, como sempre. Vestia camisa branca dobrada nos antebraços, tenso demais até para fingir calma. Enzo, do outro lado, de pé, com os braços cruzados e o maxilar trincado. Não trocavam uma palavra. Nem um olhar. Só o som da minha respiração se misturava ao silêncio deles.
Fingi não notar. Peguei uma xícara, servi o café. Meus dedos tremiam levemente, mas me forcei a manter o rosto impassível. A mesma neutralidade que uso para lidar com pacientes em crise.
— Dormiu bem? — Luca perguntou, sem olhar diretamente para mim.
— Sim — menti.
Enzo não disse nada. Nem olhou.
Sentei entre eles, como se fosse possível ignorar que havia um