Acordei antes do sol nascer. Dormir, na verdade, era só um conceito distante naquela madrugada. Me arrastei pela noite como um animal ferido, andando pelos corredores da mansão escura, evitando qualquer canto que carregasse o cheiro dela. E tudo carregava. O sofá onde ela lia, a cozinha onde ela ria, até o maldito corredor do quarto de hóspedes, onde uma vez a vi sair do banho com a toalha caindo no ombro.
Cada canto dessa casa me lembrava Sara.
Desci para a área externa e acendi um cigarro — o primeiro em meses. A nicotina queimava na garganta, e foi um alívio sentir algo que não fosse emocional. O ar ainda estava frio, e a cidade amanhecia cinzenta ao longe, sem pressa. Me perguntei onde Luca estava. Ele não voltou na noite anterior, o que era raro. Provavelmente sabia que minha paciência tinha um limite.
Eu não era só um segurança. Não pra ela. Não depois de tudo.
Acho que me enganei.
Puxei outra tragada e sentei no banco de pedra perto do jardim, onde a babá costumava brincar com