Otávio
O sol entra pela casa antes que eu queira. Escorre pelas janelas, invade sem pedir licença. Já estou acordado quando isso acontece — como sempre. O corpo insiste em levantar cedo, como se ainda houvesse algum sentido nisso.
Levanto, visto a camisa com os botões soltos, e desço as escadas da casa nova. É bonita, ampla, moderna. Longe do centro. Longe do passado.
Longe dela.
O cheiro de café me alcança antes de chegar à cozinha. É sempre o mesmo: forte, feito na hora, como eu gosto. Dona Blanca já está de pé, virando o pão na frigideira com a naturalidade de quem cuida da casa como se fosse sua.
— Já tá acordado, seu Otávio? — ela pergunta, sem nem olhar.
— O costume. — puxo a cadeira e me sento.
— Tem dia que o senhor parece mais um fantasma do que um homem.
Dou um sorriso de canto, sem graça.
— E a senhora mais parece minha mãe do que empregada.
— Melhor do que parecer uma máquina de café, né?
Ela coloca a xícara na mesa com firmeza. Bebo em silêncio, observando o jardim do lad