Não consegui dormir a noite toda. Quem, no meu lugar, conseguiria? Meu cérebro tinha muito o que processar, e tudo em muito pouco tempo. As cores da aurora começavam a se filtrar pela janela, pintando o céu com tons quentes e suaves. Respirei profundamente, tentando acalmar meus nervos, e olhei para minha pequena Emily, ainda profundamente adormecida. Sua respiração tranquila e seu rosto angelical me encheram de ternura. —Você não foi um erro, Emily —murmurei baixinho, acariciando sua bochecha—. Disso eu tenho certeza. Ainda assim, quero saber a verdade, filha. Sua chegada deve ter uma explicação. Hoje era o dia. Hoje a verdade seria revelada, ou pelo menos parte dela. Ami e Rose me acompanhavam, e embora fosse surpreendente, Emily havia se apegado muito à insuportável da Rose. Naquele momento, ela estava dando o mamadeira com uma delicadeza que eu nunca imaginei que ela teria. —Olha, Ángela! Ela já está segurando o mamadeira sozinha! —exclamou Rose com ternura, emocionada com os
Ver aquela garotinha sentada debaixo da árvore, encharcada pela chuva e chorando em silêncio, despertou algo em Helios que ele não soube identificar imediatamente. Era como um puxão no peito, uma sensação visceral que o impelia a se aproximar dela. Ele se inclinou, colocando-se à altura dela, para observá-la melhor. Seu cabelo castanho estava grudado no rosto molhado, e seus olhos, embora nublados pelas lágrimas, pareciam refletir uma dor tão profunda que o atingiu diretamente. "É apenas uma criança", pensou Helios, sentindo seu coração apertar ao vê-la tão frágil, tão perdida no meio daquela tempestade. Ele não podia ignorá-la. Não queria. —Choro porque sou uma idiota, ingênua nível supremo —disse ela de repente, limpando as lágrimas com desajeitamento, como se tentasse esconder sua vulnerabilidade. Sua voz era apenas um murmúrio, mas carregava tanto sofrimento que Helios sentiu um nó na garganta. Ele queria dizer algo, fazer algo para aliviar aquele peso que parecia esmagá-la. M
O telefone vibrou no meu bolso, e ao ver o nome de Brandon Smith na tela, senti uma mistura de surpresa e algo parecido com desconforto. Não falava com ele desde aquela última tentativa fracassada. Talvez ele só precisasse bater um papo; na universidade costumávamos ser próximos. Às seis da tarde eu o veria no novo bar que abriram perto de casa. Aceitei o convite, mas só por um momento, porque hoje à noite Sofia chegaria.Olhei para o relógio novamente: ainda faltavam cinco horas para as seis, mas meu turno já havia terminado. Decidi ir para casa mais cedo e passar a tarde com a pequena Selene. Cada momento com ela era precioso, e eu não queria perder nenhum. Amanhã ela completaria dez meses, e isso me fez sorrir enquanto caminhava em direção à saída do hospital.Antes que pudesse chegar muito longe, uma voz familiar me deteve abruptamente. Virei-me e vi Helios, que há pouco havia começado a trabalhar no hospital como pediatra. Ele estava levando isso muito a sério
Já se passaram alguns dias desde que confirmei minhas suspeitas. Eu me sentia estranhamente leve, como se um peso enorme tivesse sido retirado dos meus ombros. Minha mãe me levou de novo àquela clínica, e lá eles me pediram mil desculpas. Também disseram que me dariam uma compensação pela negligência. Minha mãe ainda não descartava a ideia de uma ação judicial — ela sempre foi assim, sua aparência dócil e amável era apenas uma máscara que escondia um caráter feroz quando algo lhe importava de verdade.O bom foi que prometeram me assegurar, a mim e à Emily. "Emily poderá entrar na escola que você quiser, sem importar o custo", disseram. «¡Será que tinham tanto medo de uma ação judicial?!», pensei comigo mesma. Minha mãe podia ser assustadora quando queria, embora ninguém notasse isso à primeira vista.Todos estávamos na sala. Minha mãe Beca tricotava um suéter para minha pequena Emily, seus dedos se movendo com precisão e calma, como sempre faziam quando tentav
Minhas amigas e eu já estávamos prontas. Loretta tinha nos pedido para usar vestidos pretos: de gola alta, ajustados na cintura, mas com a saia um pouco ampla, apenas alguns centímetros acima do joelho. Os sapatos eram pretos de salto, não muito altos, o que agradeci internamente porque caminhar em saltos altos definitivamente não era meu forte. Por mais que eu tentasse manter o equilíbrio, sempre acabava me sentindo como um flamingo desajeitado.A festa seria no jardim, e tudo parecia tirado de um sonho. Havia luzes estrategicamente colocadas que iluminavam certos pontos do jardim, transformando-o em algo parecido com uma floresta mágica de conto de fadas. No centro, uma pista de dança de madeira brilhava sob as luzes suaves, cercada por mesas cobertas com toalhas brancas impecáveis. As plantas, delicadamente iluminadas por pequenas luzes LED, pareciam sussurrar segredos na brisa noturna.Os convidados começaram a chegar, e céus, Mía estava certa. Gente
Já haviam se passado alguns dias desde aquela festa. Recebi uma boa quantia pelo trabalho e aproveitei para comprar roupas para a minha pequena. Emily está crescendo tão rápido que logo fará seu primeiro aniversário, e isso me deixa emocionada. As meninas e eu já estamos planejando algumas coisas, afinal, além de ser o aniversário da Emily, também é o meu. Enquanto passeava pelas lojas, vi alguns vestidos lindos que adoraria para minha garotinha, mas, como sempre, o preço estava fora do meu alcance. Minha bebê está na fase em que os dentinhos estão nascendo, e ela anda babando muito com seu mordedor. Inclinei-me um pouco para limpá-la e dar-lhe um pouco de água. —Você está cansada, pequena. Daqui a pouco vamos para casa. Só preciso comprar mais algumas coisinhas para você, e pronto —falei, cutucando suavemente o nariz dela. Minha pequena começou a rir, e aquele som encheu meu coração de ternura.
Junho estava chegando ao fim, e isso significava uma coisa: aniversário duplo. Emily e eu compartilhamos a mesma data de nascimento, e este ano, as meninas e eu havíamos planejado algo especial. Iríamos para a casa de praia da família de Mía, um lugar que prometia ser o refúgio perfeito para celebrar nossos aniversários juntas. Na quinta à tarde partiríamos, e voltaríamos no domingo à tarde. Loretta nos deu esses dias de folga porque fariam algumas reformas no café. Tudo parecia perfeito… ou pelo menos era o que eu pensava. A tarde caía lentamente sobre a cidade, tingindo o céu de tons alaranjados e rosados. Dentro de casa, o ar cheirava a canela e baunilha, resquícios do bolo que mamãe Isabel havia assado mais cedo. O relógio na parede marcava sete horas com seu tique-taque constante, e eu estava sentada no sofá da sala, nervosa, esperando a resposta final. —Você não vai, Ángela —sentenciou Isabel, cruzando o
A manhã chegou como um sussurro, envolvendo a casa em uma calma quase palpável. Todos ainda dormiam: as meninas em seus quartos, o resto do mundo parecia alheio ao suave brilho que se filtrava pelas cortinas. Isabel levantou-se cedo, deslizando seus pés descalços sobre o chão frio de madeira enquanto percorria os corredores em silêncio. Cada canto dessa casa estava gravado em sua memória, cada rachadura nas paredes, cada rangido sob o peso de seus passos. Quantas vezes, há vinte anos, havia sonhado com aquele lugar como seu lar. Via Daniel ao seu lado, imaginava risadas infantis ecoando nos quartos vazios, mas aquela bolha de ilusões havia estourado cruelmente. Ele mesmo a obrigara a acordar.Entrou na cozinha, onde o ar ainda cheirava a limpo, impregnado por um leve aroma de cera de móveis. Acendeu a luz e o suave zumbido do fluorescente encheu o espaço. Aproximou-se da geladeira, abrindo a porta com cuidado; a luz branca iluminou seu rosto pensativo enquanto tirava os ingredientes p