A manhã chegou como um sussurro, envolvendo a casa em uma calma quase palpável. Todos ainda dormiam: as meninas em seus quartos, o resto do mundo parecia alheio ao suave brilho que se filtrava pelas cortinas. Isabel levantou-se cedo, deslizando seus pés descalços sobre o chão frio de madeira enquanto percorria os corredores em silêncio. Cada canto dessa casa estava gravado em sua memória, cada rachadura nas paredes, cada rangido sob o peso de seus passos. Quantas vezes, há vinte anos, havia sonhado com aquele lugar como seu lar. Via Daniel ao seu lado, imaginava risadas infantis ecoando nos quartos vazios, mas aquela bolha de ilusões havia estourado cruelmente. Ele mesmo a obrigara a acordar.
Entrou na cozinha, onde o ar ainda cheirava a limpo, impregnado por um leve aroma de cera de móveis. Acendeu a luz e o suave zumbido do fluorescente encheu o espaço. Aproximou-se da geladeira, abrindo a porta com cuidado; a luz branca iluminou seu rosto pensativo enquanto tirava os ingredientes p