CAPÍTULO 5

— Eu investigo tudo que entra na minha casa. — Ele se virou, seu rosto agora sério. — Especialmente quem cuidará do meu filho. Você acha que isso é invasivo? Talvez. Mas necessário.

Sofia levantou-se, as pernas trêmulas.

— Eu devia ir.

— Por quê? Porque eu sei sua dor? — Ele deu um passo à frente. — Porque eu sei como é perder alguém de forma violenta e abrupta? Como é acordar todos os dias com a pergunta ‘e se’?

Ela recuou, mas sua costas encontrou a estante de livros. Não havia para onde ir.

— Eu não preciso da sua empatia, — ela disse, sua voz controlada mas tensa.

— Não estou oferecendo empatia. Estou oferecendo… reconhecimento. — Ele parou a meio metro dela, perto o suficiente para que ela visse as pequenas fissuras em sua compostura, os círculos quase imperceptíveis sob os olhos, a linha tensa da mandíbula. — Você e eu, Sofia… somos sobreviventes. Mas sobreviver não é o mesmo que viver. Léo nem mesmo sobreviveu. Ele apenas… existe.

Sua raiva dissipou-se, substituída por algo mais complexo.

— E você quer que eu o ajude a viver novamente.

— Quero que você o ajude a encontrar uma razão para querer viver. — Ele recuou finalmente, dando-lhe espaço. — Eu falhei nisso. Clara falhou. Talvez uma estranha… uma sobrevivente como você… possa ter sucesso onde nós falhamos.

Sofia pegou sua bolsa.

— Quando começo?

— Amanhã. O motorista buscará você às oito. Traga o que precisar. — Ele voltou para a escrivaninha, sua atenção já se desviando, a entrevista encerrada. — Oh, e Sofia?

Ela parou na porta.

— A peça do quebra-cabeça que Léo lhe deu. Guarde-a. É… cheia de significado.

Ela tocou o bolso onde a peça estava.

— Significa o quê?

Dante olhou para a foto de Clara na escrivaninha, depois para Sofia. Por um momento, suas feições suavizaram-se, revelando uma dor tão nua e profunda que Sofia quase recuou.

— Significa, — ele sussurrou, — que ele acha que você pode terminar o que sua mãe começou.

A porta do escritório fechou-se atrás de Sofia. No corredor, ela respirou fundo, as mãos tremendo agora francamente. Isadora apareceu do nada, como se tivesse estado esperando.

— Ele contratou você, então.

— Parece que sim.

Isadora estudou-a, seus olhos cinza percorrendo seu rosto, seu corpo, como se buscando falhas.

— Dante tem… uma maneira particular com as pessoas. Ele vê o que quer, não necessariamente o que está lá. Tome cuidado para não confundir sua atenção com algo pessoal.

— É um aviso?

— É um fato. — Isadora começou a andar pelo corredor, indicando que Sofia deveria segui-la. — Venha, mostro-lhe o quarto onde ficará. É no ala leste, perto de Léo. Mas não muito perto.

Enquanto seguiam, Sofia notou uma porta entreaberta. Dentro, uma sala cheia de equipamentos de monitoramento, telas mostrando cada canto da casa. Uma delas mostrava o escritório de Dante. Ele ainda estava lá, de pé diante da foto de Clara, uma mão pressionada contra o vidro como se pudesse tocá-la.

Na outra tela, o quarto de Léo. O menino estava diante da janela, segurando o lápis vermelho que Sofia lhe dera contra o peito. Ele olhava para o jardim, mas Sofia teve a nítida impressão de que ele não via a paisagem lá fora.

Via o desenho que fizera. A intersecção. A mancha vermelha.

— Aqui, — disse Isadora, abrindo uma porta.

O quarto era bonito, mobiliado com bom gosto, mas impessoal como um quarto de hotel. Janelas com vista para os jardins laterais. Uma cama king size. Uma escrivaninha. Uma porta para um banheiro privativo.

— Jantar às sete. Vestido casual, mas não muito. — Isadora já estava saindo. — Ah, e Sofia?

— Sim?

— Bem-vinda à família Valente. — O sorriso de Isadora não chegou aos olhos. — Espero que você dure mais que as outras.

A porta fechou-se. Sofia colocou a bolsa na cama, sentando-se na beirada. Tirou a peça do quebra-cabeça do bolso. O fragmento do rosto de Clara – um olho sorridente, uma curva de bochecha.

Ela virou a peça. No verso, em letras minúsculas e desgastadas, alguém escrevera a lápis: “Ele sabe.”

Sofia ficou paralisada, os dedos congelados ao redor da porcelana fria. A letra era feminina, curvada. Clara?

Ou era uma armadilha? Alguém colocara a mensagem ali para ela encontrar? Isadora? Dante?

Ou pior: Léo?

Do lado de fora, o sol começava a se pôr, tingindo os jardins de laranja e roxo. De sua janela, Sofia podia ver a estufa de orquídeas que Isadora mencionara durante o passeio – uma estrutura de vidro que brilhava como um diamante no crepúsculo.

E dentro dela, por um momento, ela jurou ver uma figura alta e masculina parada entre as plantas. Dante?

Mas quando ela piscou, a figura havia desaparecido, e apenas as orquídeas balançavam suavemente, como se alguém acabara de passar por elas.

Abaixo, no quarto de Léo, uma luz acendeu. A silhueta pequena do menino apareceu na janela. Ele não olhava para os jardins, nem para o pôr do sol.

Estava olhando para cima. Diretamente para a janela de Sofia.

Ele levantou a mão. Não um aceno, mas uma apresentação. Na palma, ele segurava algo que brilhava à luz do entardecer.

O lápis vermelho.

Sofia levantou a mão em resposta. Não sabia por quê, apenas sentiu que devia.

Por um longo momento, eles permaneceram assim, a babá e o menino silencioso, separados por dois andares de mármore e segredos, mas conectados por uma oferta de lápis e uma peça de quebra-cabeça com uma mensagem fantasma.

Então, de repente, Léo se virou e desapareceu da janela.

E do jardim abaixo, subiu um som que fez os pelos dos braços de Sofia se eriçarem: um assobio baixo, triste, uma melodia que ela conhecia muito bem.

Era a mesma música que seu pai assobiava quando trabalhava em seus casos. A mesma que ele assobiava na noite em que desapareceu.

Ela correu para a janela, olhando para os jardins escurecendo. Ninguém lá. Apenas o vento movendo as folhas, carregando o eco da melodia agora desaparecida.

Mas na calçada de pedra logo abaixo de sua janela, algo brilhava à luz fraca.

Sofia estreitou os olhos.

Era uma única orquídea branca, arrancada pela raiz, deixada cuidadosamente no centro da calçada.

Como uma oferenda.

Ou um aviso.

No bolso de Sofia, a peça do quebra-cabeça parecia pulsar com um frio próprio. “Ele sabe.”

A pergunta que a atormentou enquanto ela se preparava para sua primeira noite na mansão Valente não foi sobre o que Dante sabia.

Mas sim: quem mais sabia que ela estava ali não apenas para cuidar de Léo, mas para desenterrar verdades que alguém matara para manter escondidas?

E pior: se ela já fora descoberta antes mesmo de começar?

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