Segredo Proibido: A Babá Disfarçada e o CEO
Segredo Proibido: A Babá Disfarçada e o CEO
Por: J. Velvet Moore
CAPÍTULO 1

Os olhos de Dante estavam fixos no monitor em sua escrivaninha. A tela dividia-se em quatro quadrantes, cada um mostrando um ângulo diferente do quarto do seu filho. No canto inferior direito, Léo. Sentado no mesmo ponto do tapete persa há três horas e dezessete minutos. Diante dele, um quebra-cabeça de mil peças espalhado, o mesmo quebra-cabeça que Clara começara a montar com ele na semana anterior à sua morte.

A porta do escritório se abriu sem bater. Isadora entrou com a familiaridade de quem não precisava de permissão.

— A candidata esta semana, — anunciou, deixando cair uma pasta sobre a mesa com um baque suave. — A senhora Moraes chorou quando Léo jogou o prato de macarrão nela. Disse que nunca viu uma criança com tanta raiva nos olhos.

Dante não se moveu. Seus dedos, longos e pálidos, permaneceram entrelaçados sobre a mesa.

— O macarrão era do jeito que ele gosta? Ao dente, molho de tomate sem pedaços, queijo ralado fino?

Isadora pausou, surpresa pela pergunta irrelevante.

— Não sei, Dante. Acho que sim.

— Então não era raiva, — ele murmurou, seus olhos ainda no monitor. Léo havia movido uma peça do quebra-cabeça, a terceira, mas não a encaixara. Apenas a girava entre os dedos minúsculos. — Era um teste. Ele testa elas. Quer ver se vão fazer igual à mãe.

— Clara nunca jogou comida nele, — Isadora respondeu, sua voz afiada.

— Não. Mas uma vez jogou um prato na minha direção. De macarrão. Ele se lembra.

Isadora se aproximou da janela, seu reflexo sobrepondo-se à cidade.

— Precisamos de alguém profissional, Dante. Não outra dessas mulheres sentimentais que veem um viúvo rico e um garoto traumatizado e pensam em uma história de redenção.

— Redenção, — Dante repetiu a palavra como se a experimentasse na boca, amarga. Seus olhos finalmente se desprenderam do monitor e fixaram-se na irmã. — Você acredita em redenção, Isa?

Ela não respondeu. Em vez disso, abriu a pasta e espalhou uma dúzia de currículos sobre a mesa.

— Todas com referências impecáveis. Todas com experiência com crianças "difíceis". Nenhuma funcionou.

Dante levantou-se, sua altura preenchendo o espaço da sala como uma sombra alongada. Caminhou até a janela e as luzes do escritório projetaram seu contorno sobre a chuva.

— Ele não é difícil. Está preso. Preso no mesmo dia há dois anos, três meses e catorze dias.

— Precisamos desprendê-lo, então, — disse Isadora, e algo em sua voz, uma nota quase imperceptível de urgência que fez Dante se virar lentamente para encará-la.

— Por que a pressa?

Seus olhos se encontraram. Os de Dante, cor de âmbar escuro, herdados do pai. Os de Isadora, cinza como o dia lá fora, herdados da mãe. Por um segundo, algo passou entre eles,  um entendimento não dito.

— Ele tem cinco anos, Dante. Se continuar assim, será tarde. O mutismo se tornará permanente. Os psicólogos disseram... 

— Os psicólogos não sabem de nada, — cortou Dante, sua voz ainda baixa mas com uma lâmina nela. — Eles falam em traumas e estágios do luto. Não entendem que algumas pessoas não passam por estágios. Apenas param. Pararam no momento exato em que a vida deixou de fazer sentido.

Ele voltou à mesa e, com um gesto brusco, varreu os currículos para o chão. As folhas brancas esvoaçaram e pousaram como pombas feridas.

— Encontre outra.

— Não há mais ninguém na lista pré-selecionada, — Isadora protestou, mas seus olhos já percorriam as folhas caídas, pensando.

— Então expanda a busca. Procure fora dos padrões. Alguém que não venha de uma agência de babás glamourizadas. Alguém que… entenda de silêncio.

Isadora parou. Algo em sua expressão mudou, um lampejo de reconhecimento. Ela abaixou-se e pegou uma folha que havia pousado perto de seus pés.

— Na verdade, — disse ela, suavizando a voz, — há uma última candidata. Chegou por indicação indireta. Nem estava na minha lista inicial.

Ela estendeu o papel. Dante não o pegou.

— Por que não estava?

— Porque seu currículo é… incomum. Especialização em terapia do luto infantil. Trabalhou dois anos em um centro de apoio a crianças enlutadas. Casos específicos de mutismo traumático.

Dante finalmente esticou a mão e pegou a folha. Não era um currículo formal. Era uma carta manuscrita com uma letra redonda e clara.

"Crianças que não falam não são crianças silenciosas. Elas gritam através de gestos, de desenhos, da forma como seguram uma colher ou arrumam brinquedos. Aprendi a ouvir esses gritos silenciosos. E, às vezes, a ajudá-los a encontrar uma voz novamente."

Assinado: Sofia Ramos.

Abaixo, uma foto 3x4. Cabelos castanhos cacheados escapando de um coque desleixado. Olhos cor de mel que pareciam olhar diretamente para quem os observava. Um sorriso que não chegava totalmente aos olhos, como se estivesse guardado, não totalmente há mostra.

— Sofia Ramos, — Dante leu o nome em voz alta, e as sílabas ecoaram estranhamente familiares em sua boca.

— Vinte e seis anos. Pedagoga. Especialização em psicologia do luto. Trabalhou no ‘Lar das Memórias’, aquele centro no interior que foi fechado ano passado. Desde então, free-lancer.

— Por que o centro fechou?

Isadora hesitou pela fração de um segundo.

— Falta de verba. Tragédia, dizem. Faziam um trabalho nobre.

Dante não tirou os olhos da foto. Havia algo ali… uma ressonância que ele não conseguia nomear. Não era que ela se parecesse com Clara, não exatamente. Clara tinha traços mais refinados, olhos mais claros. Mas havia algo na curva da boca, na maneira como a cabeça estava levemente inclinada…

— Ela está em São Paulo?

— Posso checar.

Dante olhou novamente para o monitor. Léo ainda estava sentado, mas agora segurava uma das peças do quebra-cabeça contra o peito, como se fosse um talismã.

— Marque. Para esta tarde. Aqui.

— Quero vê-la com ele. No ambiente dele.

Isadora assentiu, um leve sorriso tocando seus lábios.

— Como desejar. Ligarei agora.

Ela saiu, deixando Dante sozinho com a chuva e o silêncio. Ele caminhou até a janela novamente, a foto ainda em suas mãos. Seus dedos traçaram o contorno do rosto na imagem, um gesto quase inconsciente.

Ele olhou para baixo, para a carta. Relia uma linha perto do final:

“Às vezes, para ajudar uma criança a sair do silêncio, precisamos primeiro entrar nele com ela. E isso requer esquecer nossas próprias palavras.”

Um som o fez voltar ao monitor. Léo havia se levantado. Ele não estava mais sentado diante do quebra-cabeça. Em vez disso, estava de pé junto à janela do quarto, as mãos pequenas pressionadas contra o vidro, observando a chuva parar. Como se estivesse esperando alguém.

Dante sentiu um frio estranho percorrer sua espinha. Como a sensação que se tem antes de uma coisa boa acontecer e você sabe que algo está prestes a mudar.

Ele dobrou a carta cuidadosamente e colocou-a no bolso interno do paletó.

— Está chegando, filho, — sussurrou Dante, tão baixo que as palavras se perderam no tique-taque do relógio. — A última candidata.

No quarto, como se tivesse ouvido, Léo afastou-se da janela. Foi até a cama e pegou seu ursinho de pelúcia, um presente da mãe no último aniversário que celebraram juntos. Abraçou-o com força, seu rosto enterrado no pelo desgastado.

Mas seus olhos grandes e escuros, permaneceram abertos. Fixos na porta do quarto. Esperando.

Dante desligou o monitor. A imagem de Léo desapareceu. Ele sentia que nada seria o mesmo depois que Sofia Ramos entrasse naquela casa. E a parte mais perturbadora? Ele não tinha certeza se isso era um aviso ou uma esperança.

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