Christopher
Uma batida suave na porta interrompeu meus pensamentos conflitantes.
— Christopher? — A voz do meu pai ecoou.
Levantei a cabeça e o vi parado ali, imponente como sempre. Mesmo em casa, ele vestia um terno impecável, o ar de autoridade inabalável. Ele entrou no quarto e parou ao lado da escrivaninha, cruzando os braços.
— Está tudo bem? — perguntou, com um tom que parecia mais um diagnóstico do que preocupação.
— Estou bem, só... pensando — respondi, tirando os fones e endireitando a postura na cama.
Ele arqueou uma sobrancelha, esperando que eu continuasse.
— Na verdade, queria falar com você sobre algo importante.
Ele assentiu, indicando que eu prosseguisse.
— Eu queria passar um tempo na casa do tio James, em Portland. Só por alguns meses.
O semblante dele endureceu imediatamente.
— Na casa do James? Por quê?
Engoli em seco, reunindo coragem.
— Pai, eu preciso de um tempo. Só um tempo para pensar, me entender e me preparar. Quero ter certeza de que estou pronto antes de assumir tudo isso.
David suspirou profundamente e esfregou a testa, como se já estivesse cansado daquela conversa antes mesmo de respondê-la.
— Christopher, eu entendo que você queira descobrir sua própria identidade, mas o tempo está contra nós. Estou velho, cansado e preciso de você na empresa.
— Eu sei, pai. E prometo que, quando voltar, farei tudo o que for necessário. Só me dê essa chance.
Houve um silêncio prolongado, até que ele finalmente balançou a cabeça.
— Tudo bem. Mas só por um tempo. Quando voltar, espero que esteja pronto para assumir suas responsabilidades.
Eu não consegui conter um suspiro de alívio.
— Obrigado, pai.
Ele não respondeu, apenas saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.
Passei os minutos seguintes arrumando minha mala, sentindo o peso nos ombros diminuir um pouco. Dirigir até Portland seria a liberdade de que eu precisava, mesmo que temporária. Já com as malas prontas, despedi-me do meu pai, entrei no meu carro e segui viagem. Poderia ter ido de avião, ou até mesmo no jatinho da família, mas viajar de carro é uma das minhas paixões. Observar a paisagem ao longo do percurso e admirar o céu estrelado deitado no capô do carro é uma experiência única para mim.
Em todas as minhas viagens de carro, posso pernoitar em hotéis da nossa família – pois meu pai tem vários investimentos e é dono de uma infinidade de locais por todo o estado –, sempre tenho onde ficar.
Liguei o som do carro e coloquei minha playlist favorita. Logo, o som potente da guitarra ecoou pelos alto-falantes, e a voz inconfundível de Axl Rose, da banda Guns N' Roses, começou a tocar Sweet Child o' Mine, me fazendo mergulhar na letra e cantar junto.
A música fala de um amor intenso e puro por uma menina de cabelos ruivos e olhos azuis, que desperta uma vontade de se prender a ela para sempre. Às vezes, ao ouvi-la, fico imaginando como deve ser a beleza da garota descrita na música.
À noite, parei em um hotel para jantar, tomar um banho e descansar antes de seguir viagem com segurança no dia seguinte. Já estava próximo de Portland e entretido com mais músicas quando meu celular, conectado ao carro, começou a tocar. Desliguei o som e atendi.
— Oi, mãe.
— Que história é essa de ir para a casa do seu tio, Christopher? Eu voltaria de viagem hoje, e você sabia disso! — reclamou.
— Eu precisava de um tempo para mim, mãe, e o pai me deixou vir.
— Você precisa amadurecer e cuidar da nossa empresa — ela estava histérica. — Daqui a pouco, eu morro de desgosto por você não se interessar em cuidar do que é nosso, e você vai se sentir culpado para sempre.
— Pare com a chantagem, mãe. Não vou voltar até ter certeza do que eu quero — fui firme e desliguei antes que ela continuasse a me repreender.
— Merda! — xinguei frustrado, batendo no volante. — Droga de vida.
Continuei balançando a cabeça, frustrado, socando o volante e não percebi que uma garota atravessava a rua sem olhar. Ela estava distraída, usando fones de ouvido. Freei a tempo de evitar o pior, mas o susto a fez cair no chão. Desci do carro apressado para ver se ela estava bem e fui surpreendido pela sua beleza impressionante.
A garota aparentava ter uns 15 ou 16 anos. Era ruiva, com lindos olhos azuis e um corpo gracioso e cheio de curvas. Fiquei parado, admirando sua beleza por alguns segundos, antes de estender a mão e perguntar se ela estava bem.
— Você está bem? — perguntei, minha voz carregando uma preocupação genuína.
Ela olhou para minha mão e depois para mim, parecendo um pouco envergonhada.
— Estou bem, foi só um susto. — Disse, avaliando a roupa e se havia ferido suas belas mãos.
Sua voz saiu baixa, doce e suave, e naquele momento eu soube que estava apaixonado pela garota mais linda que já vi. Senti uma vontade imediata de pintá-la, de capturar para sempre sua beleza em minhas telas e na minha memória.